Título: Mata Atlântica pede socorro
Autor: Marcello Gazzaneo
Fonte: Jornal do Brasil, 21/02/2006, Rio, p. A13

O desmatamento continua sendo o maior vilão da Mata Atlântica no Estado do Rio. De acordo com as estatísticas do Instituto Fundação Estadual de Florestas (IEF), esse tipo de crime ambiental representou 51% dos 315 autos de constatação emitidos pelo órgão, ano passado. A maior concentração ocorreu no Rio, na Costa Verde e na Região Serrana, onde se localiza a maior parte da mata no Estado. A floresta ocupava 16,73% do território do Rio em 2000, quando a ONG SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (INPE) realizaram a última medição. Entre 1985 e 2000, de acordo com dados da organização, o estado perdeu 12.004 hectares, por ano, da mata. O Rio já teve 97% do seu território coberto por esse tipo de vegetação.

Diretora de Gestão do Conhecimento da ONG, Márcia Hirota, afirmou que o ritmo de desmatamento vem caindo. Por outro lado, segundo ela, a fiscalização ficou mais difícil em função do tipo de desmatamento na região.

- O tipo que acontece hoje é de difícil detecção. Abrange uma área de até dois hectares - revela Márcia.

De acordo com o chefe da Divisão de Vigilância e Fiscalização do IEF, Marco Aurélio Paes, a ação do instituto vem ajudando a combater o desflorestamento e outros tipos de crimes ambientais. Paes reconheceu, porém, as dificuldades para combater a degradação do que sobrou da floresta.

- É na região da Costa Verde onde encontramos mais dificuldades para fiscalizar. São áreas em que precisamos utilizar, muitas vezes, helicópteros ou embarcações - afirma Paes.

Pelas estatísticas, o desmatamento aparece com mais intensidade no Rio, Angra dos Reis, Nova Friburgo, Cachoeiras de Macacu, Campos e Teresópolis. O chefe de fiscalização do IEF ressaltou que a vegetação também sofre com o avanço de edificações irregulares.

- Não vamos permitir construções de moradias nem de pousadas sem as devidas autorizações - garante.

Na Região Serrana, a expansão imobiliária vem dizimando a vegetação nativa, inclusive de áreas de preservação permanente. No caso do avanço das construções irregulares, os obstáculos são ainda maiores. Elas representam 15% dos 315 autos de constatação registrados no ano passado.

O presidente do IEF, Maurício Lobo, lembrou que na Reserva da Joatinga, em Paraty, o instituto está impedido de executar demolições, por uma liminar da juíza da 1ª Vara Federal de Angra dos Reis, Monique Calmon de Almeida Biolchini, concedida no fim do ano passado. A decisão beneficiou construções feitas por moradores da região, mas, segundo Maurício, algumas delas são irregulares.

Os autos de constatação são enviados à Comissão Estadual de Controle Ambiental (Ceca), responsável pela aplicação das multas. Os dados do IEF mostram que os autos vêm aumentando desde 2002, quando houve 112 registros. Nos anos seguintes foram 213 (2003), 263 (2004) e 315 (2005).