Título: Tiros fortes contra o câmbio
Autor: Fernando Nakagawa e Viviane Monteiro
Fonte: Jornal do Brasil, 21/02/2006, Economia & Negócios, p. A20

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan, e o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, admitiram ontem que o atual patamar do câmbio já começa a se refletir nos resultados da balança comercial.

Furlan, no entanto, disse que é possível que ocorra uma reversão da queda das exportações nos próximos meses em função da safra agrícola.

- Não dá para se dizer que a queda das exportações seja uma tendência concreta, pois teremos a entrada da safra agrícola, mais fortemente em março e abril, e é possível que tenhamos alguma reversão nesse sentido.

Furlan afirmou que, por enquanto, a meta das exportações de US$ 132 bilhões para este ano não será revista.

- Uma avaliação desses números será feita no final de junho - disse.

Mas, segundo o ministro, o governo está articulando algumas medidas para tentar controlar a forte depreciação do dólar frente ao real.

- Há um conjunto de medidas que estão sendo articuladas, algumas já foram feitas e esperamos que haja acomodação do câmbio.

O ministro disse ainda que a desoneração das alíquotas de importação não está no pacote.

- A desoneração das importações é até desejável, mas estamos fechando uma negociação da OMC (Organização Mundial do Comércio) e não faria muito sentido o Brasil desonerar, unilateralmente, as importações sem negociar uma contrapartida - disse.

Dados sobre as exportações, divulgados ontem, mostraram sinais de enfraquecimento do comércio brasileiro. Na terceira semana do mês, a média das vendas ao exterior ficou em US$ 432,4 milhões. O valor é 5,7% menor que os US$ 458,5 milhões registrados na segunda semana de fevereiro. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, a desaceleração ocorreu principalmente pela retração dos embarques de produtos básicos. Na outra ponta, as importações diminuíram 4,1% na mesma comparação.

No período entre 13 e 19 de fevereiro, o Brasil exportou US$ 2,162 bilhões e importou US$ 1,583 bilhão. Com isso, o saldo comercial acumulado no ano pulou para US$ 4,449 bilhões, valor ainda 5,3% superior ao de igual período de 2004.

Mantega, por sua vez, afirmou que a taxa de câmbio está em um ''patamar problemático'' e acrescentou que as vendas externas seriam muito mais expressivas se o dólar oscilasse entre R$ 2,60 e R$ 2,70.

Ele disse que a trajetória de queda dos juros básicos, hoje em 17,25% ao ano, vai acabar contribuindo para que o dólar pare de cair.

O presidente do BNDES lembrou ainda que a taxa de câmbio está levando ao adiamento de conclusões de pedidos de financiamento ao banco.

Mas por enquanto o câmbio não parece dar sinais de mudanças. Ontem, o dólar voltou a cair, 0,32%, para R$ 2,118, apesar da atuação do Banco Central, que vendeu 4.550 contratos de swap cambial reverso. Na Bolsa de Valores de São Paulo, o Ibovespa subiu 0,31% e atingiu o recorde de 38.539 pontos e volume financeiro de R$ 2,487 bilhões.