Título: Relatório acusa fundos de pensão
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 22/02/2006, País, p. A5

O sub-relator de fundos de pensão da CPI dos Correios, deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), confirmou ontem a participação de fundos de pensão no esquema do mensalão ao divulgar relatório parcial. A informação, entretanto, gerou bate-boca com líderes governistas, que acusaram o pefelista de politizar o caso. Os dados apontariam concentração de investimentos dos fundos de empresas estatais nos bancos BMG e Rural nos anos de 2003 e 2004. Na avaliação do sub-relator, seria um prêmio para as duas instituições financeiras pela participação no mensalão.

¿ Por terem admitido correrem os riscos que correram e participarem dos esquemas espúrios que esta CPI investiga, esses bancos foram premiados pelos investimentos dos fundos de pensão ¿ acusou ACM Neto. Em entrevista ao JB, o ex-deputado Roberto Jefferson, pivô da crise, já havia apontado a ligação entre os fundos e o mensalão.

O estudo mostra aumento dos investimentos de 12 grandes fundos de pensão, inclusive Previ, Petros e Funcef ¿ os três maiores do país ¿ nos dois bancos em 2004. As aplicações foram feitas em Fundos de Investimento Financeiro (FIF) e Certificados de Depósitos Bancários (CDB). Foram excluídos do relatório a Prece por ter se tornado estadual e a Sistel, que foi privatizado. A ex-diretora financeira da Petros, Eliane Aleixo Lustosa, disse, ontem, na CPI, que o objetivo era reduzir a taxa de administração.

Os governistas levantaram que a maior contradição do relatório de ACM Neto é a redução dos investimentos dos fundos nos dois bancos em 2003, ano em que há mais suspeita de pagamento do mensalão. No BMG, seis dos maiores fundos de pensão investiram R$ 124 milhões em 2002, mas reduziram os investimentos para R$ 30 milhões em 2003.

O volume de investimentos no Banco Rural dos nove maiores fundos somam R$ 115 milhões em 2002. No primeiro ano da gestão de Lula, estes mesmos investimentos caíram para R$ 18 milhões. Em 2004, subiram para R$ 282 milhões.

O deputado ACM Neto tentou explicar a contabilidade para envolver os fundos com supostas irregularidades nas aplicações, mesmo no período de 2003.

¿ Os bancos foram premiados posteriormente com investimentos ¿ disse. A explicação só irritou ainda mais os governistas. A líder do PT no Senado, Ideli Salvati, acusou ACM Neto de ¿ajeitar¿ os números sem sustentação na realidade. Houve troca de berros na CPI. Ideli apresentou levantamento da Secretaria de Pevidência Complementar com investimentos de 67 fundos de pensão. As instituições federais investigadas tiveram aplicações no Rural e no BMG mais conservadoras em relação a dos fundos estaduais e privados, que elevaram os investimentos nos dois bancos no mesmo período.

Para complicar, ACM Neto comparou as captações dos fundos com saques de empresas ligadas a Marcos Valério. O gráfico não confirmava, porém, que as datas de pico das captações nos dois bancos tenham relação com os saques de Valério. O BMG divulgou nota apontando ¿equívoco¿ contábil no relatório de ACM Neto.