Título: Crise entre Argentina e Uruguai aumenta
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Fonte: Jornal do Brasil, 22/02/2006, Internacional, p. A13
O Uruguai vai denunciar à Organização dos Estados Americanos (OEA) e, em uma segunda instância à ONU, os bloqueios mantidos por ambientalistas argentinos nas pontes internacionais sobre o rio Uruguai. Em protesto contra a construção de duas usinas de celulose em Fray Bentos, cidade fronteiriça, os manifestantes causaram prejuízos econômicos a Montevidéu em quase dois meses.
Na segunda-feira, um barco pesqueiro argentino que navegava no rio Uruguai foi alvo de tiros disparados da margem uruguaia, ampliando a crise entre os dois países. A denúncia foi feita pela Delegacia Naval de Concepción, cidade argentina na margem ocidental do rio.
A decisão do governo uruguaio de denunciar a Argentina foi ratificada no Conselho de Ministros pelo presidente Tabaré Vázquez, que estudava a medida desde a semana passada. O governo de Buenos Aires, por sua vez, já ameaçou levar a questão ao Tribunal Penal Internacional de Haia.
O presidente Néstor Kirchner acusa as empresas de serem altamente poluentes e prevê sérios danos para a produção agrícola da província de Entre Ríos, além de prejuízos para o turismo e a saúde dos habitantes da região. O governo argentino pediu ao Banco Mundial que não forneça créditos para a construção das fábricas.
A Assembléia Ambiental da cidade argentina de Gualeguaychú, bloqueia, desde o início de janeiro, as estradas de acesso às pontes internacionais General San Martín e General Artigas, que ligam Uruguai e Argentina, O protesto é contra a construção de duas usinas de celulose, uma da empresa finlandesa Botnia e outra da espanhola Ence.
A possibilidade de danos ao meio ambiente é o motivo da crítica argentina para o investimento que renderia US$ 1,8 bilhão aos uruguaios, o equivalente a 13% de seu PIB.
Já Vázquez anunciou que até o final da semana o chanceler, Reinaldo Gargano, entregará ao secretário-geral da OEA, o chileno José Miguel Insulza, uma solicitação para que o organismo intervenha no caso. A petição conterá informações técnicas e ambientais sobre as usinas de celulose, os resultados das diferentes instâncias de negociação com a Argentina e uma explicação sobre os bloqueios de estradas e os prejuízos para a economia uruguaia.
O presidente manifestou ainda sua indisposição com o colega argentino por não ter respondido a uma carta enviada na semana passada solicitando uma garantia de livre circulação, prevista pelo Mercosul. Vázquez obteve o respaldo de todos os grandes partidos políticos uruguaios, que uniram-se em torno do que chamam de ''causa nacional''.
Víctor Rossi, ministro de Transporte e Obras Públicas do Uruguai, considera que o ''bloqueio transcende a preocupação ambiental para transformar-se em um prejuízo econômico muito grande''. O país reduziu drasticamente a exportação de carne para o Chile.
Segundo o responsável pela pasta de Turismo, Héctor Lescano, cerca de 25 mil argentinos já desistiram de passar suas férias no país vizinho devido aos protestos nas estradas.
A crise está num ponto de impasse em que nenhum dos dois países pode recuar, já que isso implicaria derrota política.