Título: Maré de bons números
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 23/02/2006, País, p. A2

No dia em que foi divulgada pesquisa Datafolha em que aparece à frente na corrida pela reeleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou os governadores de estado, que recebem dinheiro federal e não reconhecem a ajuda. Lula mencionou explicitamente o caso do estado de São Paulo, governado por Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência. ¿ Só de programas sociais o meu governo passa para São Paulo R$ 2 bilhões por ano para cuidar dos pobres do estado. Na maioria dos estados, os governadores não têm programa social ¿ disse Lula na cerimônia de anúncio do projeto de interiorização da Universidade Federal do Piauí e expansão do campus de Parnaíba (PI).

Alckmin rebateu a crítica de pronto, depois de inaugurar o restaurante Bom Prato, que vende refeições a R$ 1 em Piracicaba.

¿ São Paulo contribui com praticamente metade da arrecadação federal e as obras estruturais estão sendo feitas com recursos do governo estadual. Acho que investir na área social é importante, mas o investimento não pode seguir o calendário eleitoral e nem o dinheiro ser `carimbado¿ do ponto vista político ¿ devolveu.

Na pesquisa Datafolha, Lula aparece como favorito, chegando a 43% das intenções de voto no primeiro turno quando o candidato tucano é Alckmin (17%). O ex-governador Anthony Garotinho (PMDB) fica com 11%. Num cenário com a candidatura do prefeito de São Paulo, José Serra, Lula teria 39% contra 31% do paulista. Garotinho cairia para 8% das intenções. No segundo turno, uma nova vitória do presidente: 48% contra 43% de Serra.

Usando os números como combustível, o presidente voltou a centrar fogo nos governadores e na paternidade dos projetos.

¿ Tem muitos governadores espertos no Brasil que recebem dinheiro do governo federal e fazem propaganda na televisão como se o dinheiro fosse deles, como se a obra fosse deles, sem citar, sequer, o dinheiro que nós enviamos.

Numa comparação com os governos anteriores, um dos motes que pretende utilizar quando a campanha começar oficialmente, o presidente disse que avançou mais na área social que os antecessores.

Lula voltou a rebater as críticas da oposição sobre viagens para inauguração de obras. Desde terça-feira, ele visita sete estados do Nordeste.

¿ Um homem público não precisa de época de eleição para fazer campanha. Ele faz campanha da hora que acorda até a hora que dorme: 365 dias por ano. Os adversários só se incomodam quando você está fazendo a coisa certa. Porque é mais fácil destruir do que construir. Amargamos o pão que o diabo amassou no primeiro ano de governo e comemos o pão silenciosamente.

No Planalto, o clima também era de euforia com os números da pesquisa. Três percepções foram muito comemoradas. A primeira, de que cresceu o voto para Lula entre os eleitores de classe média: subiu 18 pontos percentuais entre os que têm curso superior e 16 entre os que ganham acima de dez salários mínimos. Ou seja, o eleitorado mais esclarecido potencialmente formador de opinião não sofreu o impacto das denúncias do mensalão na dimensão que se imaginava. A segunda constatação é a de que o ex-governador do Rio, Anthony Garotinho, ao se apresentar com um discurso de oposição, tira votos dos tucanos. A terceira e também animadora avaliação para o Planalto é a de que o resultado pode ampliar o dilema do PSDB, que hesita entre Serra e Alckmin.