Título: CPI quer devassa nas contas do PT
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 23/02/2006, País, p. A5

O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), vai pedir a quebra do sigilo contábil dos últimos cinco anos do PT nacional e do diretório do PSDB em Minas Gerais. Serraglio causou alvoroço no Congresso, principalmente entre os petistas, ao anunciar a disposição de ter acesso à contabilidade interna das duas legendas. De início, o relator queria limitar-se a pedir a quebra do sigilo das contas do PT. Mas foi convencido pelos parlamentares fiéis ao Palácio do Planalto a que tomasse idêntica providência com relação ao PSDB mineiro, acusado de também ter recebido recursos de Marcos Valério, suposto operador do mensalão. Parlamentares da CPI dos Correios disseram que Serraglio procura agora confirmar que a Visanet - cujo principal acionista é o Banco do Brasil - teria abastecido o caixa do PT. Com a quebra do sigilo, o partido teria de apresentar os livros contábeis.

Em novembro, o relator apresentou conclusão parcial da CPI mostrando que cerca de R$ 10 milhões teriam sido desviados do Banco do Brasil para dar suporte ao esquema do mensalão, através de contrato da DNA Propaganda com a Visanet. Ontem, Serraglio demonstrava irritação com a falta de acesso aos dados de auditoria do BB na Visanet.

Para o relator, não haveria motivos para a quebra de sigilo do PSDB, por se tratar de uma ''questão estadual''. Parlamentares da base do governo, no entanto, pediram a Serraglio que usasse de igualdade com o partido de oposição. O vice-líder do PT na Câmara, Maurício Rands (PE), argumentou que a investigação tem de ser ''abrangente''. E Serraglio rendeu-se.

- Tenho de manter o equilíbrio com os outros partidos - justificou.

A decisão de quebrar o sigilo contábil do PT foi duramente criticada pelo presidente do partido, deputado Ricardo Berzoini (SP). Segundo ele, o sigilo bancário do PT foi quebrado no início dos trabalhos da CPI, e todas as informações contábeis foram entregues ao Tribunal Superior Eleitoral. Berzoini comparou o pedido de quebra de sigilo ao relatório que o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) divulgou terça-feira, quando mostrou supostos vínculos entre os investimentos dos fundos de pensão com o pagamento do mensalão.

- Essa quebra de sigilo é falta de assunto. Isso é igual ao relatório do Grampinho. É peça política sem fundamento - criticou Berzoini.

Os requerimentos para o acesso à contabilidade dos dois partidos só devem ser votados após o Carnaval.