Título: Polícia prende primeiros suspeitos
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Fonte: Jornal do Brasil, 24/02/2006, Internacional, p. A6

A polícia britânica anunciou ontem a prisão de dois suspeitos de colaborar com a quadrilha que roubou pelo menos US$ 46 milhões de um depósito em Tonbridge, há dois dias. O montante ainda está sendo calculado e pode chegar a US$ 87 milhões. O assalto é considerado o maior já realizado no país e está mobilizando uma força-tarefa de 400 agentes. O homem de 29 anos e a mulher, de 31, foram indiciados por conspiração. Há uma recompensa de US$ 2 milhões por informações sobre o bando.

Só ontem, segundo a Scotland Yard, mais de 400 chamadas chegaram à Central de Operações com pistas dos seis fugitivos. Aeroportos e portos estavam em alerta máximo para impedir a fuga, mas a precisão militar da ação levou investigadores a trabalharem com a suspeita de que os ladrões receberam informações, ou ajuda, de dentro do depósito. Além disso, a natureza da instalação era secreta, como parte de um acordo com bancos para a guarda de valores em locais terceirizados.

- Foi um crime organizado do mais alto nível, uma operação co precisão militar - classificou o subcomandante de polícia, Adrian Leppard. - As prisões que fizemos são um desenvolvimento animador - completou.

Para fazer o assalto, concluído na madrugada de terça para quarta-feira, bandidos vestidos de policiais, e em carros idênticos às viaturas oficiais, seqüestraram o gerente do depósito da empresa sueca Securitas, Colin Dixon, de 51 anos, quando este ia para o trabalho de manhã. Ao mesmo tempo, outra dupla de falsos policiais levava a mulher de Dixon, Lynn, de 45 anos e o filho do casal, Craig, de 8 anos.

Ambos foram mantidos reféns por seis horas sob a mira de armas enquanto o gerente aguardava com o bando em uma fazenda. No fim da noite, Dixon foi forçado a facilitar o acesso da quadrilha ao prédio da empresa, encarregada de abastecer os caixas eletrônicos de uma região ao Sul de Londres. Lá, os ladrões renderam e amarraram os 15 funcionários e esperaram a chegada de um caminhão baú para carregá-lo com os sacos de dinheiro.

A operação foi encerrada às 2h15. Ao mesmo tempo, Lynn e Craig foram soltos sem ferimentos. O depósito de Tonbridge fica a apenas 48 km do acesso do túnel que liga a Grã-Bretanha à França, sob o Canal da Mancha. A vigilância ali foi ampliada. Nenhum dos veículos utilizados na ação havia sido encontrado até ontem, incluindo o caminhão baú dos bandidos.

Além de ter a polícia em seu encalço, os ladrões devem enfrentar dificuldades para usar o dinheiro roubado. A quantia é tão grande que mesmo esquemas clandestinos teriam dificuldade em fazer a lavagem. Segundo experts britânicos, o provável é que o grupo tenha armado um plano usando países com legislação mais frouxa. Ali, os milhões seriam investidos em empresas offshore ou em propriedades e empreendimentos privados para despistar.

Alguns analistas acreditam, ainda, que nem os próprios assaltantes tinham idéia do volume que carregariam. Nesse caso, uma das saídas seria queimar parte dessa verba - especialmente as notas mais novas - para reduzir os riscos.

A adoção de uma recompensa recorde por informações também faz parte da tática policial, por atrair informantes de toda parte - reduzindo a liberdade de movimentos dos ladrões.

- É um prêmio único, jamais fizemos algo assim. Vai estimular muito o interesse - avalia Leppard. - Essa operação levou semanas ou meses sendo planejada. Há muita gente envolvida - acrescenta.