Título: Desemprego volta a crescer
Autor: Fernanda Rocha
Fonte: Jornal do Brasil, 24/02/2006, Economia & Negócios, p. A17

A conjunção de fatores que levou o nível de desemprego ao mais baixo patamar em três anos deixou de existir em janeiro, fazendo o indicador acelerar para 9,2% no início de 2006. No mês anterior, a taxa ficou em 8,3%, sob efeito das contratações para o Natal e também do menor número de pessoas procurando trabalho. Em conseqüência do recrudescimento do desemprego, o rendimento médio teve queda de 1,2% na comparação com dezembro. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na passagem de dezembro para janeiro, o contingente de ocupados caiu 1,1% ou menos 232 mil postos de trabalho. O aumento da taxa de desemprego já era esperado pelo coordenador da pesquisa, Cimar Azeredo. - Todo início de ano temos aumento na taxa de desocupação e queda na ocupação em função da dispensa de temporários e mais pessoas procurando emprego - avalia.

Apesar do aumento no desemprego, o resultado ainda é o segundo menor desde 2002.

- O resultado mostra que há uma tendência de alívio no mercado de trabalho. Precisamos saber, agora, se as políticas de juros e de câmbio vão ser atraentes ao ponto de estimular o investimento e a geração de postos de trabalho. E saber se a queda na desocupação e o aumento da qualidade de emprego ocorridos em dezembro vão se sustentar no primeiro semestre de 2006.

Para Azeredo, a expectativa é que o desemprego comece a cair novamente no segundo semestre, com a movimentação do período eleitoral.

A pesquisa mostrou queda de 1,2% no rendimento médio real do trabalhador em janeiro comparado a dezembro de 2005 (1,8%). O valor médio ficou em R$ 985,90 em janeiro frente a R$ 998,26 do mês anterior.

O emprego com carteira assinada ficou estável em relação a dezembro. Frente a janeiro de 2005, houve variação de 6,4%. Rio de Janeiro e Salvador foram as únicas regiões metropolitanas que não tiveram alta na taxa de desocupação, graças à atividade turística. - Diferentemente de anos anteriores, os trabalhos temporários em dezembro foram de maior qualidade e com carteira assinada. Com a dispensa, a reversão é natural.

Enquanto o IBGE divulgava aumento no desemprego, o Ministério do Trabalho apontou crescimento de 0,33% no emprego com carteira assinada entre dezembro e janeiro. Foi a primeira vez que a pasta decidiu divulgar os dados do cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) no mesmo dia da pesquisa mensal do IBGE.

O saldo entre postos abertos e fechados ficou positivo em 86.616. O número de novos postos, entretanto, ficou abaixo do registrado em janeiro de 2005 (115.972). O Caged mostrou ainda que o crescimento do emprego nas cidades não-metropolitanas (0,38%) continua maior que nas grandes capitais (0,29%).

O quadro de recuperação do desemprego parece ter deixado também o trabalhador mais temeroso em relação à economia. O Índice de Confiança do Consumidor, calculado pela Fundação Getulio Vargas, verificou queda de 2,1% entre janeiro e fevereiro, registrando piora tanto na avaliação do presente quanto em relação ao futuro.