Título: Varig dá mais um passo
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 24/02/2006, Economia & Negócios, p. A19
Os credores da Varig aprovaram ontem o detalhamento do plano de recuperação da companhia aérea. Em uma sessão tumultuada devido a divergências com representantes dos funcionários da empresa, as mudanças no projeto original receberam o sinal verde. Do total de votos válidos, 95,8% foram a favor do detalhamento e apenas 4,2% contrários.
Entre as principais mudanças está a extinção da estrutura com três gestores que administrariam o Fundo de Investimentos e Participação que controlaria a companhia (FIP Controle). Agora, haverá apenas um gestor, que será definido na próxima assembléia, dia 13 de março. Entre os candidatos está o Mellon Bank, citado pelo diretor-presidente do Aerus, Odilon Junqueira.
Além disso, será definida, também no dia 13, uma consultoria que ajudará na administração da empresa. As mais cotadas, por enquanto, são a Galeazzi, a Íntegra e a Álvares e Marçal.
De acordo com Antônio Luís de Mello e Souza, sócio-diretor da SM Asset Management, que assessora a Varig no processo de reestruturação, quando a captação do FIP Controle atingir R$ 750 milhões haverá a definição de um comitê gestor - de acordo com as cotas de cada investidor no FIP - que passará a comandar a empresa e definirá os novos administradores da Varig.
A participação da Fundação Ruben Berta, atual acionista majoritária do Grupo Varig, será diluída até o limite de 5%.
- Agora vai começar a fase mais importante da Varig, que são os investidores que colocarão o dinheiro na empresa. Com esse mecanismo criado, os investidores vão começar a aparecer - disse o presidente da Varig, Marcelo Bottini.
Mas os trabalhadores da empresa deixaram a assembléia de ontem revoltados. De acordo com Márcio Marsillac, coordenador do Trabalhadores do Grupo Varig (TGV), que reúne as associações de funcionários da companhia, os trabalhadores viram questões ''basilares'' do plano de recuperação, previstas no documento aprovado em 19 de dezembro, serem deixadas de lado.
Entre elas, Marsillac ressalta o veto à participação dos trabalhadores nos FIPs, através da troca de créditos trabalhistas e previdenciários por cotas do fundo, e o fim da obrigatoriedade de um consenso para definição do nome do gestor da companhia que será definido no próximo dia 13 e que pode ser eleito por maioria de votos.
- Houve alteração do plano. Vamos contestar isso na Justiça e vamos responsabilizar os que tenham provocado perdas e danos aos trabalhadores.
O TGV pretende ainda contestar o voto do Aerus. Segundo Marsillac, o fundo de pensão tem apenas R$ 260 milhões de sua dívida repactuada no plano de recuperação, mas vota com o peso dos seus créditos totais, de R$ 2,2 bilhões.
- A lei é muito clara: o credor que não tiver a sua dívida repactuada não vota na assembléia - afirmou.