Título: Novela dos tucanos cai na folia
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Fonte: Jornal do Brasil, 25/02/2006, País, p. A3

Mais importante partido de oposição ao presidente Lula, o PSDB entrará na Quaresma mergulhado no impasse resultante da indicação de seu candidato ao Palácio do Planalto. O pré-candidato não declarado José Serra, prefeito de São Paulo, planejou usar o camarote da prefeitura, na primeira noite do Desfile das Escolas de Samba na capital paulista, como palanque político. Ao som da bateria das agremiações, serristas discutiriam a melhor saída para recuperar o tempo perdido, já que Lula continua em campanha solitária.

O PT tentou barrar na Justiça a escola Leandro de Itaquera devido aos bonecos de Serra e Alckmin que apresentava em um dos seus carros. O partido argumentava que a agremiação recebeu financiamento da prefeitura, mas na noite de ontem a escola recebeu autorização para manter a alegoria.

Preocupado com a ascensão de Lula nas pesquisas, o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), pediu que Serra e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, se reunissem antes do Carnaval para decidir, entre eles, quem iria concorrer à Presidência. A recusa dos pré-candidatos de abandonarem o projeto pessoal de concorrer ao Planalto tornou o encontro impossível.

- Ambos acreditam na Presidência de forma concreta. Acho difícil que abram mão da candidatura. O partido vai ter que decidir - conclui o deputado federal Júlio Semeghini (SP).

O prazo fatal para os tucanos é 31 de março, quando a lei obriga candidatos a qualquer posto a renunciarem aos cargos que ocupam no Executivo. Tasso, no entanto, quer ter a resposta em mãos antes do dia 15. A decisão seria tomada, em princípio, pelo triunvirato, formado por ele, pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo governador de Minas, Aécio Neves. Depois de sofrer críticas internas, a cúpula começou a consultar governadores, deputados federais e senadores, o que deve terminar no dia 10. O triunvirato só não irá reunir-se durante o Carnaval porque FH viajou para o exterior e Aécio quer ver a a folia do Rio e da Bahia.

- Ficamos imobilizados e, se não encontrarmos solução inteligente para essa questão, seremos vistos como os que não merecem voltar ao governo - disse o líder do PSDB no Senado, Artur Virgílio (AM).

A vantagem inicial de José Serra sobre Lula, que chegou a 16 pontos numa simulação de segundo turno em dezembro, segundo o Datafolha, transformou-se em desvantagem de cinco pontos, pelo levantamento do mesmo instituto divulgado esta semana.

Com apenas 17 pontos percentuais na pesquisa (simulação que daria a Lula a vitória já no primeiro turno), Alckmin sustenta que pode crescer numa disputa polarizada.

Serra, por sua vez, não se dispõe a deixar a Prefeitura de São Paulo, que dispõe de um Orçamento de R$ 14 bilhões, sem a garantia do apoio de Alckmin e de todo o PSDB para a campanha reconhecidamente difícil.