Título: Relatório das contas de Duda não identifica depositantes
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 25/02/2006, País, p. A4

O acesso aos dados sigilosos da conta bancária da empresa Dusseldorf Company LTD, do publicitário Duda Mendonça, poderá frustrar os parlamentares da CPI dos Correios. As caixas de documentos que estão na sede do Departamento de Recuperação de Ativos (DRCI), do Ministério da Justiça, não identificariam as pessoas que depositaram e retiraram o dinheiro da conta do publicitário. A documentação é um emaranhado de números de contas bancárias, de bancos internacionais e de contas em nome de empresas offshore, criadas pelos lavadores de dinheiro em paraísos fiscais, em nomes de ''laranjas'', para ocultar o patrimônio. Pelos documentos, é possível associar algumas offshore a doleiros.

A documentação em poder do DRCI mostra que o Banco Rural foi um dos principais depositantes da conta da empresa não declarada de Duda. A CPI dos Correios comprovou que o Rural é também o banco que mais fez empréstimos fictícios a Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser operador do mensalão.

As empresas do Sistema Financeiro Rural - entre elas o Banco Rural Europa e o Rural International Bank - repassavam depósitos em dólares para o Bank Boston International, que os debitava na conta da Dusseldorf Company. O Rural International Bank também tem sede nas Bahamas, mesmo paraíso fiscal da empresa offshore de Duda.

Os documentos que estão no DRCI mostram vários caminhos do dinheiro que engordou a conta de Duda. A maioria dos depósitos saiu da conta da empresa Trade Link Bank - considerada a maior ''lavanderia de dinheiro'' de que que se tem notícia nos paraísos fiscais. A companhia foi criada pelo presidente e fundador do Banco Rural, Sabino Corrêa. São 12 os depósitos, no valor total de US$ 828 mil (R$ 1,77 milhão), que saíram da Trade Link e foram parar na conta do Banco de Boston, depois no Standard Chartered e, finalmente, noBank of Boston International, alimentando a conta de Duda.

Um dos depósitos, de US$ 70.424,84 (R$ 150,7 mil), entrou na conta do Rural International Bank, migrou para o Bank Boston National Association, e foi depois para o Bank of Boston International, onde acabou na conta de Duda. Outro depósito, de US$ 25.371,28 (R$ 54,2 mil), saiu de uma conta ''desconhecida'' do Rural Europa, caiu em outra conta do Rural Europa, foi transferido para a conta do Wachovia Bank, e depois para o Bank of Boston International, onde entrou na conta do empresário.

A Polícia Federal mostrou a Duda Mendonça os valores e os números de contas de quem ele recebeu e para quem ele transferiu dinheiro, mas ele se negou a esclarecer as dúvidas dos delegados. Indagado sobre a titularidade da conta 100.13395, para a qual transferiu US$ 500 mil (R$ 1,07 milhão), Duda afirmou desconhecer o beneficiário do dinheiro. A PF indiciou-o por lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

Os documentos disponibilizados pelo DRCI poderão levantar várias dúvidas entre os técnicos da CPI dos Correios, que não têm acesso ao aos dados da Polícia Federal, com o histórico de movimentações financeiras internacionais dos grandes lavadores de dinheiro. E é este cruzamento que os peritos do Instituto Nacional de Criminalística estão fazendo, para tentar descobrir os grandes lavadores de dinheiro que teriam depositado e recebido da conta do publicitário.

O problema é que a PF não está disposta a entregar a perícia do INC para a CPI, a não ser que o Supremo Tribunal Federal (STF) - onde tramita o inquérito penal - esteja disposto a passar o documento aos parlamentares. Só assim, a CPI poderia cruzar estas informações para fechar o relatório final.