Título: Orações pela unidade
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Fonte: Jornal do Brasil, 25/02/2006, Internacional, p. A13

As orações de sexta-feira foram realizadas em meio à calmaria trazida pelo toque de recolher, imposto depois da explosão de violência que tomou conta do país devido ao ataque que destruiu a Mesquita Dourada, em Samarra, ao Norte de Bagdá. Nos templos, ontem, os pedidos eram pela unidade nacional e a convivência pacífica entre sunitas e xiitas.

Para evitar mais violência, o primeiro-ministro, Ibrahim Jaafari, se reuniu com clérigos das duas correntes e proibiu o porte de armas sem autorização e instituiu que o toque de recolher continua hoje. Nas regiões xiitas, imãs isentaram os sunitas de qualquer culpa em suas preces e acusaram os ''terroristas partidários de Saddam Hussein e os takfiris'', extremistas da facção rival.

- Esse crime foi cometido pelo inimigo comum dos xiitas e dos sunitas. Temos de afirmar nosso desejo de viver juntos, de maneira pacífica e fraterna - declarou o representante do aiatolá Ali Sistani, Abdel Mehdi al-Karbalai, na cidade santa de Kerbala.

Em Kut, Nassiriyah e Hilla, os imãs lançaram apelos ''à rejeição das lutas internas''. Já em Kufa, o Exército de Mehdi, do clérigo radical Moqtada Al Sadr, promoveu uma manifestação para ''se opor às tentativas de semear a discórdia'' entre os iraquianos.

Nas mesquitas sunitas, o tom também era pacífico. Em Baaquba, Nordeste de Bagdá, o xeque Chehab al-Samarrai qualificou o ataque contra o mausoléu xiita de terrorista.

Em Faluja, líderes condenaram os atentados a locais de culto, quaisquer que sejam. O xeque Hamid Jadduh, imã da mesquita al-Forkane, defendeu ''a assinatura de um pacto de honra entre sunitas e xiitas para proteger os lugares santos muçulmanos''.

Jaafari, que impôs o toque de recolher em Bagdá e em três províncias do centro do Iraque para a sexta-feira, informou que ''o esquema de segurança será reforçado nos lugares perigosos'' da capital e de outras cidades.

Apesar da calmaria, um xiita e um pregador sunita foram mortos ao Norte de Bagdá. Além disso, os corpos de 13 pessoas com marcas de bala foram encontrados de manhã em diversos bairros.

No Sul da capital, dois obuses de morteiros foram lançados sobre o túmulo de um companheiro do profeta Maomé. O Ministério do Interior não informou, no entanto, se os tiros destruíram o túmulo de Salman al-Farsi, situado em Madaën, a 25 km de Bagdá. Também não houve reações violentas ao ataque.

Salman, que era zoroastrista (religião que se desenvolveu na Pérsia) converteu-se ao cristianismo e, depois, ao Islã, antes de se tornar companheiro do profeta. É respeitado por sunitas e xiitas.