Título: Radicais ameaçam petróleo
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Fonte: Jornal do Brasil, 25/02/2006, Internacional, p. A13

Um atentado frustrado por forças de segurança na maior refinaria de petróleo do mundo, uma instalação da estatal Aramco, em Abqaiq, Arábia Saudita, mostrou ontem que o radicalismo islâmico atua numa ofensiva com várias frentes. Além do assalto ao complexo, os violentos protestos contra a publicação das charges de Maomé por jornais europeus e a demolição da Mesquita Dourada, em Samarra, no Iraque, há dois dias, seriam a evidência de que os extremistas associados à rede Al Qaeda voltaram à carga.

Segundo o ministro do Petróleo, Ali al-Naimi, a produção não foi afetada. O preço dos combustíveis, no entanto, aumentou em US$ 2, alcançando US$ 63,20 o barril. A Arábia Saudita, importante aliado dos Estados Unidos, é o maior exportador de petróleo do mundo e responde por 11% da oferta mundial, com produção diária de 9,5 milhões de barris.

O ministro do Interior, Mansour al Turki, informou que as forças de segurança do país impediram que três carros-bombas explodissem na refinaria. Os veículos já tinham passado do primeiro dos três portões em volta do complexo quando foram destruídos, de acordo com o Ministério. Em comunicado, foi informado que ''os danos limitaram-se a um incêndio rapidamente controlado''. Dois guardas, no entanto, morreram durante a operação.

Segundo uma fonte da Segurança, quatro militantes foram mortos na ofensiva policial. A tevê Al Arabiya, dos Emirados Árabes, informou que os carros usados pelos radicais exibiam o logotipo da Aramco.

Como a tentativa de ataque ocorreu numa sexta-feira, dia sagrado para os árabes, muitos dos trabalhadores da refinaria estavam de folga. Até a noite de ontem, não havia vítimas no local.

Para Robert Baer, ex-agente da CIA, a agência de Inteligência americana, Abqaiq, na província Leste, de maioria xiita, é o ''ponto mais vulnerável e o alvo mais espetacular do sistema petrolífero saudita''.

Já Gary Ross, da empresa Pira Energy, de Nova York, preocupa-se com o suprimento mundial de petróleo:

- O ataque chama a atenção para o medo a respeito da segurança do suprimento mundial no momento em que enfrentamos problemas na Nigéria, no Irã e no Iraque.

Esse foi o primeiro atentado contra uma refinaria do país. A instalação, próxima ao Golfo Pérsico, concentra dois terços da produção do país. Em maio de 2003, o país viveu uma série de atentados com a assinatura da Al Qaeda. A ação de ontem ocorre um ano depois de o líder do grupo, Osama bin Laden, pedir a seus seguidores que atacassem alvos da indústria petrolífera no Golfo, por onde é escoada a maior parte do petróleo saudita.