Título: Crescimento frustrante
Autor: Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 25/02/2006, Economia & Negócios, p. A17

A economia brasileira voltou à média da última década e cresceu, no ano passado, apenas 2,3%, metade da taxa de 2004. Naquele ano, o Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas geradas no país) aumentou 4,9%. Com a retração dos investimentos em 2005, especialmente após a crise política, foi o consumo das famílias que sustentou a expansão, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O consumo familiar cresceu 3,1%, o dobro da taxa de investimentos e de gastos do governo, ambos com 1,6%. A facilidade do crédito consignado para pessoas físicas não chegou às empresas, afetadas pelas elevadas taxas de juros e pelo dólar desvalorizado. Tanto que o aumento do PIB na indústria de transformação despencou de 7,4% em 2004 para 1,3% em 2005.

¿ Em 2004, a economia foi puxada pelos investimentos, que cresceram 11% no embalo de máquinas e equipamentos. Já em 2005, a economia foi sustentada pelo consumo das famílias, com aumento de 3,1% ¿ afirmou a gerente de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.

O consumo foi alimentado pelo aumento de 6,8% da massa salarial e pelo salto de 38,5% nas operações de crédito por pessoas físicas no ano passado. A demanda interna respondeu por 60% do crescimento do PIB, enquanto as exportações, em nível inédito, responderam por inéditos 40%, contra 27% em 2004. De 2001 a 2003, as compras externas foram motor da expansão nacional, com mais importância no crescimento do que as famílias brasileiras. Esse movimento sempre ocorre quando há desaquecimento econômico.

O segundo item mais importante no PIB é a Formação Bruta de Capital Fixo (leia-se investimentos), com 19,6% de participação, seguido dos gastos do governo (18,8%).

¿ Parece que a intenção do governo, com juros elevados e este câmbio, é acabar com a indústria brasileira. Vamos nos tornar exportadores de juros ¿ atacou o presidente da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Newton de Mello.

Não fossem os abençoados recursos naturais, a indústria brasileira teria crescido bem menos que 2,3%. Enquanto a produção de petróleo e minério de ferro proporcionaram crescimento recorde à indústria extrativa mineral, com aumento de 10,9% no PIB do setor, a indústria de transformação avançou apenas 1,3%. Aço, fertilizantes, vestuário, têxteis, couro e calçados e óleos combustíveis tiveram produção reduzida em 2005. Os motivos são os mais diversos. O setor têxtil sofreu com a concorrência dos produtos chineses, mais baratos. Já os fertilizantes amargaram queda na esteira da retração agropecuária.

Com crescimento de 0,8% no PIB, o setor agrícola registrou o pior resultado desde 1997, quando houve recuo de 0,8%. Arroz, fumo, milho, café, laranja e algodão enfrentaram quebra de safra. Salvaram a lavoura a cana-de-açúcar (devido ao consumo de álcool combustível), a soja e a mandioca.

Já o setor de serviços cresceu 2% no ano passado. As maiores altas foram registradas no comércio (3,3%), transporte (3,2%), aluguéis (2,5%) e instituições financeiras (2,4%).

Para o professor da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-RJ) Rubens Cysne, é preciso rediscutir os sistemas fiscal, previdenciário, tributário e judiciário do país.

¿ Esse crescimento fraco é um problema estrutural. Entre 1980 e 2004, a média de crescimento foi de 2,11%, enquanto entre 1900 e 1980, foi de 5,7%. Isso mostra uma descontinuidade ¿ aponta.

Com Fernanda Rocha