Título: Vice-lanterna entre latinos
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 25/02/2006, Economia & Negócios, p. A18

A expansão da economia brasileira no ano passado ficou bem aquém da média da América Latina. Segundo balanço preliminar da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), com estimativas e dados já divulgados por institutos de estatística de alguns países, em termos percentuais, o Brasil teve o segundo menor crescimento da América Latina, à frente apenas do Haiti. Os países que já divulgaram seus resultados - como Argentina (9,1%), Venezuela (9%) e México (3%) - confirmaram as previsões da Cepal. Para o Brasil, o esperado era crescimento de 2,5%. No continente, só o Haiti, em guerra civil, deve crescer menos: 1,5%. A comparação também é desfavorável diante do desempenho de outros grandes países emergentes. A China cresceu 9,9% no ano passado, enquanto a Índia deve fechar 2005 com expansão próxima a 6%. Até o rico Japão rompeu com o ciclo de estagnação das últimas décadas e avançou mais que o Brasil: 2,8%.

Para a economista Zeina Latif, do Banco ABN Amro Real, a responsabilidade pelo fraco crescimento do PIB no quarto trimestre (apenas 0,8%, após retração de 0,9% no terceiro) não pode ser colocada apenas sobre os ombros dos juros altos.

- A política monetária tem uma participação nisto, mas acho que só culpá-la seria dar um peso exagerado - avalia, projetando expansão de 4% para 2006. - Será que poderíamos ter crescido 3,5% se o Banco Central tivesse reduzido mais os juros? Pode ser, mas esses 3,5% ainda ficariam abaixo da média apresentada pelos outros emergentes e por outros países da América Latina.

Para a especialista, além da questão monetária, o país não cresce devido a problemas estruturais, como forte presença do Estado na economia, a ausência de reformas e problemas fiscais.

No entanto, Zeina considera que o país caminha bem.

- Crescemos no ano retrasado, crescemos no ano passado, não temos risco de racionamento, os riscos políticos são menores - avalia.

Segundo a economista, parece que o país está rompendo com o que os economistas chamam de maldição do stop-and-go (alternância brusca entre períodos de crescimento e de recessão), o que já é uma grande notícia para os investidores. Outro ponto destacado pela economista é a mudança na agenda macroeconômica.

- Passamos a década de 80 discutindo inflação. Hoje, não temos mais este tipo de problema e podemos discutir uma agenda microeconômica - afirma a economista.

Zeina não deixa de destacar a urgência da realização das reformas, ressaltando que a crise do ano passado custou muito caro, pois perdeu-se oportunidade para realizar a reforma tributária, resolver a questão das agências reguladoras e ratificar a autonomia do Banco Central.

Com Eduardo Campos