Título: Leiloeiro classifica roubo como 'crime hediondo'
Autor: Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 26/02/2006, Rio, p. A10

O leiloeiro Leoni - com 48 anos de atuação no mercado de obras de arte e sócio-remido do Museu Castro Maya - classificou o roubo das telas de Claude Monet, Henri Matisse, Salvador Dalí e Pablo Picasso na tarde de sexta-feira como ''crime hediondo''. - São obras catalogadas e fora de mercado, bens culturais de valor incalculável. No Brasil, o acervo de arte contemporânea do Museu Castro Maya só é suplantado pelo do Museu de Arte de São Paulo - disse Leoni.

- Portanto, não foi só o Rio que perdeu uma importantíssima parcela de seu patrimônio cultural. Na verdade, pode-se dizer que a nação inteira foi roubada neste episódio - prosseguiu o leiloeiro, indignado.

Segundo Leoni, dos grandes nomes da pintura do século 20, o pintor espanhol Pablo Picasso é atualmente o mais bem cotado no mercado de arte internacional.

- Se estivesse à venda, a tela roubada A Dança bateria sozinha a casa dos US$ 40 milhões - avaliou.

Na opinião de Leoni, os ladrões sabiam o que estavam roubando, o que leva o leiloeiro a supor que o crime pode ter sido encomendado, talvez por colecionadores inescrupulosos:

- Por trás disso deve ter o dedo de algum maluco que quer ficar olhando as telas na própria parede. A Polícia Federal agiu rapidamente, comunicando o roubo à Interpol, as fronteiras foram fechadas e no mercado de arte ninguém negociará estas telas. As obras não têm como serem vendidas, nem aqui nem fora do país - analisou.

Embora considere o esquema de segurança do Museu Castro Maya adequado, Leoni lamentou que o roubo de bens culturais ainda seja um crime freqüente no Rio de Janeiro.

Há três anos, foram furtados do Palácio do Itamaraty, no Centro do Rio, mapas, fotografias do século 19 e até gravuras do pintor holandês Albert Eckhout (1610-1665), que esteve no Brasil com a expedição científica encomendada pelo príncipe Maurício de Nassau.

- Com a grande divulgação das investigações pela mídia, algumas peças roubadas apareceram largadas em locais públicos, um verdadeiro deboche - relembrou o leiloeiro.