Título: Lula apressa reforma na Esplanada
Autor: Paulo de Tarso Lyra, Sérgio Pardellas e Romoaldo
Fonte: Jornal do Brasil, 23/11/2004, O país, p. A3

Presidente janta com ministros petistas, que tentam manter o espaço no governo, e marca reunião geral para 10 de dezembro

Preocupado com a paralisia do Congresso, o governo vai apressar a reforma ministerial. Quer fugir das pressões dos partidos governistas que, na tentativa de obter mais uma pasta, vêm freando as votações no Legislativo. Tudo indica que a próxima reunião ministerial, marcada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para os dias 10 e 11 de dezembro, será realizada já com os novos ministros. O encontro está marcado para a véspera da convenção nacional do PMDB, agendada para 12 de dezembro.

O partido quer aumentar sua participação na Esplanada e pode ganhar pelo menos mais uma pasta. Oficialmente, a agenda prevê uma avaliação dos dois anos de governo, além do planejamento para 2005. Assessores do Planalto, entretanto, acreditam que não faz sentido fazer um encontro com ministros à beira da demissão.

O assunto foi discutido ontem, durante reunião da coordenação política de governo. Além do presidente Lula, participaram do encontro seis ministros de Estado e o vice José Alencar. Logo depois, a pedido de José Genoino, Lula chamou ministros petistas para um encontro na Granja do Torto. A reunião foi vista como uma discussão interna dos petistas sobre a reforma ministerial. Genoino, presente no encontro, foi incumbido pelo Diretório de negociar o espaço do partido na Esplanada.

Os aliados continuam na expectativa de quais mudanças serão feitas. A euforia da semana passada deu lugar à expectativa. Enquanto isso, as votações na Câmara tendem a ficar em passo lento. O presidente do PP, Pedro Corrêa (PE), está em stand by desde sexta. O PMDB janta e almoça com Lula, mas não desmarca a convenção. O PTB ameaça roer a corda e pular fora da nau governista.

Lula almoça amanhã com a bancada do PMDB na Câmara, que tem colaborado com a obstrução na pauta de votações da Casa. O líder do partido, José Borba (PMDB, reconheceu que, durante o jantar da última sexta com os senadores, Lula disse o que o PMDB sonhava ouvir.

- Mas a negociação é ininterrupta - destacou, ressaltando que a posição do PMDB na Câmara continua a mesma e as votações vão

ocorrer em ritmo próprio.

O ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, assumiu ontem o papel de unificar o PMDB. Segundo ele, não interessa a ninguém que o partido fique dividido.

- Queremos uma posição clara. Está é uma discussão política, que não gira em torno de cargos - garante.

Apesar do disfarce, os olhos crescem de cobiça. Um dos ministérios mais cobiçados é o da Integração Nacional, ocupado atualmente por Ciro Gomes. ''É um ministério com caneta'', confirmam representantes das duas legendas, num jargão político que se refere a pastas com orçamentos robustos.

Um dos cotados para assumir um cargo na Esplanada é o líder do PP na Câmara, Pedro Henry (PE), que tem demonstrado desconforto.

- Fico constrangido. A reforma é um quebra-cabeça.