Título: A indústria que move a festa
Autor: Alessandro Teixeira
Fonte: Jornal do Brasil, 27/02/2006, Outras Opiniões, p. A9

Reconhecido como um dos maiores eventos do planeta, o carnaval carioca movimenta cifras tão grandiosas quanto os próprios desfiles das escolas de samba. Além de estimular o turismo, a indústria do carnaval envolve mais de 52 setores da economia, movimenta cerca de R$ 1 bilhão em negócios apenas no Estado do Rio e gera mais de 300 mil postos de trabalho, dentro e fora dos barracões, um terço deles nos quatro dias de festa. E esse número se multiplica se forem considerados os serviços terceirizados.

Embora existam poucos dados sobre esta indústria, estima-se que aproximadamente 80% da matéria-prima utilizada no Carnaval seja importada, tanto do Exterior - principalmente dos Estados Unidos e China -, como de outros estados, com predominância de São Paulo.

A escassez dos materiais abre um filão para a indústria nacional. Como ilustração: somente na Portela, R$ 69 mil são gastos com cosméticos para maquiagens especiais vindos dos Estados Unidos. Elaboradas com propriedades impermeabilizantes, que resistem à chuva e ao suor, esse material é utilizado pelas 14 escolas do grupo especial e por outras do grupo de acesso. Entre os motivos, o preço dos produtos nacionais, que se elevam pela falta de produção em escala, chegando a serem 50% mais caros que os importados. Além disso, a tecnologia para produção de muitos destes produtos não é desenvolvida no país.

De acordo com dados da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (LIESA), as escolas investem entre R$ 40 mil e R$ 70 mil em mão-de-obra por semana no barracão, sem contar os custos fixos. Entre os profissionais estão escultores, costureiras e montadores de fantasias. Uma das mais tradicionais escolas de samba do carnaval carioca, a Portela gasta semanalmente de R$ 15 mil a R$ 17 mil com as costureiras no barracão e gera 300 empregos diretos nos três meses que antecedem a folia. Nos demais meses, pelo menos 130 pessoas trabalham em prol da escola. Na soma dos quatro meses de maior movimento - de novembro a fevereiro - as cifras alcançam de R$ 800 mil a R$ 1 milhão por escola com costureiras e compras de tecido. Uma única fantasia da Ala das Baianas pode custar de R$ 1,1 mil a R$ 1,7 mil, aplicados em tecidos, mão-de-obra, aviamentos e acessórios. Em média, a ala traz 250 integrantes. Na Bateria, com 300 percursionistas, a fantasia custa em torno de R$ 1,1 mil. Aproximadamente 100 mil metros de tecido são adquiridos todos os anos para compor as alas da Portela.

Os carros alegóricos são os campeões de diversidade de material. Do aço ao isopor, passando pelo plástico, pela madeira e pela borracha, são empregados em média R$ 280 mil em alegorias, descontando a estrutura que pode ser reaproveitada em outros anos.

O carnaval é também terreno fértil para as inovações. Há alguns anos que o aço empregado nas fantasias foi substituído pelo vime, material leve e de grande aplicabilidade, que garante a leveza sem comprometer a estética. Outra novidade é a contratação de pessoal com experiência em outras festas populares, como o Festival Folclórico de Parintins, que acontece no Amazonas, para operar os carros alegóricos.

A indústria do carnaval cresceu tanto nas últimas décadas que se tornou necessária a profissionalização do mercado. A LIESA coordena, junto com a Universidade Estácio de Sá, a Faculdade do Carnaval, com a pretensão de transformá-la em breve em Instituto do Carnaval. Com dois anos para a obtenção do certificado, a primeira turma deverá concluir o curso no final de 2006.

O carnaval é um propulsor da indústria, do comércio e dos serviços no país. Organizar essa cadeia produtiva, que abrange desde a formação acadêmica até a inovação tecnológica, ampliará suas atividades, gerando, conseqüentemente, novas oportunidades de emprego e renda, beneficiando micro e pequenos empresários, contribuindo para aumentar a inclusão social e o nível competitivo da indústria. Fortalecer e sistematizar a indústria do carnaval significa investir em um dos maiores cartões postais do país.