Título: Sunitas impõem condições a diálogo
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Fonte: Jornal do Brasil, 28/02/2006, Internacional, p. A7

BAGDÁ - - A Frente do Acordo Nacional Iraquiano (Fani), que reúne os principais partidos sunitas do país, anunciou ontem que retornará às negociações para a formação de um novo governo nos próximos dias se suas exigências forem atendidas. As condições do grupo incluem a imposição do toque de recolher na capital por um longo período, a indenização às famílias dos mortos e a reconstrução dos templos danificados durante a onda de violência, iniciada depois do ataque à Mesquita Dourada, templo xiita em Samarra, ao Norte da capital.

Os sunitas boicotaram as conversas para a formação do novo governo em protesto pelos ataques de xiitas da última semana. Agora, a Fani faz 10 exigências para voltar ao diálogo. Com 44 cadeiras, será a terceira força política do próximo Parlamento iraquiano, depois dos xiitas e da aliança curda.

- Demos a lista de mesquitas ao primeiro-ministro Ibrahim Jaafari. Se houver gestos concretos, voltaremos para a mesa de negociações - afirmou o líder sunita Adnane al Dulaim.

Para a reconstrução do templo de Samarra e dos locais de culto sunitas que sofreram danos nos últimos dias, o Iraque já conta com a promessa de colaboração da ONU e de um grupo de países doadores. Só a restauração da Mesquita Dourada, destruída no dia 22, deve durar pelos menos cinco anos, segundo o ministro de Obras Públicas, Jasem Mohamad Jaafar.

Ontem, em um dia relativamente calmo no país, quatro pessoas morreram e 16 ficaram feridas em duas explosões próximas ao templo sunita de Dat al Natakein, a Sudeste de Bagdá.

- As bombas explodiram no momento em que os fiéis entravam para fazer a reza noturna - contou o policial Saad Khatab.

O atentado foi cometido apesar das extremas medidas de segurança impostas em Bagdá. A mais radical foi anunciada pelo Ministério da Defesa, que ordenou ontem o deslocamento de tanques nas ruas da capital para manter a calma. Além disso, foi determinado que ''toda pessoa armada, independentemente do partido político ou religioso'' poderá ser presa.

É nesse clima que o Iraque amanhece hoje sem um desfecho para o seqüestro da jornalista americana Jill Carroll, seqüestrada em 7 de janeiro. O prazo para o cumprimento da exigência dos terroristas - a libertação de todas as iraquianas presas das prisões sob o comando dos EUA - acabou à 0h de ontem. Mas, segundo o embaixador americano em Bagdá, Zalmay Jalilzad, embora a reivindicação não tenha sido atendida, a refém está viva. Ainda de acordo com o diplomata, as autoridades iraquianas afirmam que têm ''informações sobre o local em que ela está presa''.

Um dado que pode influenciar positivamente no caso é o anúncio feito pelo exército dos EUA da libertação de 390 pessoas. Atualmente, há quatro mulheres ocidentais reféns no Iraque.