Título: Previ: oposição e PT em guerra
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 04/03/2006, País, p. A5

Oposição e governo iniciaram ontem uma guerra silenciosa em torno das investigações do rombo de R$ 1,5 bilhão na Previ - fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil - durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. O sub-relator de Fundos de Pensão da CPI dos Correios, deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), avisou que não investiga nenhum fato ocorrido antes de 2000. Do outro lado, o PT fala até em abrir uma CPI para investigar fraudes nos fundos de pensão no governo passado.

A batalha, noticiada ontem pelo Jornal do Brasil, promete ser dura. A justificativa apresentada pela assessoria de ACM Neto para não investigar nada antes de 2000 é o suposto cronograma da CPI. A mesma CPI dos Correios, no entanto, vem investigando vários fatos ocorridos antes deste ano, exemplo dos repasses doempresário Marcos Valério Fernandes de Souza - o operador do mensalão - para o então candidato ao governo de Minas, o senador Eduardo Azeredo (PSDB).

Entre os grandes prejuízos da Previ estão os investimentos no Complexo de Sauípe - um rombo de R$ 846 milhões. A Previ aplicou R$ 1,018 bilhão no complexo, em contrato fechado com a Fontecindam Participações e com a construtora Norberto Odebrecht. Uma das testemunhas do protocolo de entendimento para a construção de Sauípe tem a assinatura do avô de ACM Neto, o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA).

O dossiê que a Previ enviou aos parlamentares inclui carta que o governador da Bahia, Paulo Souto, enviou à direção da instituição, parabenizando-a pelos investimentos no local quatro meses antes da assinatura do protocolo de entendimento. A assessoria do Governo da Bahia informou que Souto está no interior do estado.

O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini, afirmou que é necessário a CPI dos Correios investigar a fundo as operações irregulares da Previ no governo de FHC.

- Quem sempre resistiu à esta investigação foram PFL e PSDB, que não querem expor as mazelas e a forma irresponsável com que trataram os fundos de pensão no governo Fernando Henrique - criticou Berzoini.

Os dois relatórios que ACM Neto divulgou dos fundos de pensão - sobre os quais as instituições apontaram erros primários - foram duramente criticados por Berzoini. Na avaliação do parlamentar, a maneira pela qual ACM Neto conduz as investigações, ''direcionando'' o trabalho para o governo do PT, expõe as fragilidades da CPI.

O deputado Carlos Abicalil (PT-MT) não aceita os argumentos de ACM Neto sobre eventual impedimento para investigar os fundos antes do ano 2000. Abicalil lembrou que apenas Sauípe, com rombo de R 846 milhões na Previ, representa prejuízo maior do que ACM Neto tinha apontado no primeiro relatório sobre os investimentos de 14 fundos de pensão, em torno de R$ 730 milhões.

- Uma única operação que envolve a família dele como testemunha tem prejuízo bem maior do que o cálculo de prejuízos dele para 14 fundos - disse Abicalil, que cogita até mesmo propor uma nova CPI para investigar o assunto.

O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) afirmou que a reportagem publicada pelo JB mostra que os partidos de oposição e os governistas ''se assemelham nas tramóias e nas espertezas''. Para Chico, o envolvimento de outros partidos na corrupção pode significar o fim da CPI.

- É mais uma possibilidade de pizza - diz Chico.

A reportagem do jornal também repercutiu em São Paulo. A assessoria do prefeito José Serra (PSDB) enviou carta ontem, com explicações sobre a intermediação que ele fez para a venda do Hospital Umberto Primo para a Previ, que deu ao fundo de pensão um prejuízo de R$ 206 milhões. Segundo a carta, o então deputado Serra ''procurou colaborar com os esforços de autoridades e representantes dos trabalhadores da área da saúde, além da comunidade italiana, na busca de soluções para a recuperação do hospital''.

O prefeito, no entanto, se recusou a responder às perguntas enviadas pelo JB na tarde de quinta-feira, como por exemplo, as pessoas que teria contactado para que a venda do hospital fosse concretizada para a Previ.