Título: Homossexualismo
Autor: D. Eugenio Sales
Fonte: Jornal do Brasil, 04/03/2006, Outras Opiniões, p. A11

No dia 29 de novembro de 2005 foi publicado um documento da Congregação para a Educação Católica intitulado ''Instrução sobre os critérios de discernimento vocacional acerca das pessoas com tendências homossexuais e da sua admissão ao Seminário e às Ordens Sacras''. O texto, que havia sido aprovado pelo papa Bento XVI a 31 de agosto, traz a assinatura do prefeito desse Dicastério, o cardeal Zenon Grocholewski. A 11 de novembro último, o mesmo cardeal prefeito dessa Congregação da Cúria Romana concedeu uma longa entrevista à revista 30 Giorni: ''Nos últimos anos vem sendo amplamente divulgadas opiniões errôneas ou ambíguas, segundo as quais a homossexualidade seria uma tendência natural, inscrita na natureza humana ao lado da tendência heterossexual. Essas idéias são contrárias à lei natural, aos ensinamentos da Sagrada Escritura e à constante tradição da Igreja. Como essas opiniões penetram em alguns ambientes eclesiásticos, o dicastério foi chamado a intervir, restabelecendo o verdadeiro ensinamento da Igreja''. Daí a publicação dessa instrução.

A introdução aborda a ''admissão ou não dos candidatos que tenham tendências homossexuais profundamente arraigadas''. Reconhece que alguém, apenas com propensão homossexual sem a prática de atos, pode exercer o sacerdócio de maneira exemplar. O certo na instrução é não ser oportuno chamar estas pessoas ao sacerdócio. No item 1, considera a ''maturidade afetiva e paternidade espiritual'' como condições fundamentais à recepção do sacramento da ordem. Ninguém pode se arrogar o direito de receber o sacerdócio se não for chamado pela Igreja. O item 2, trata ''da homossexualidade e o ministério ordenado''. O catecismo da Igreja Católica assim ensina: ''A homossexualidade designa as relações entre homens ou mulheres, que experimentam uma atração sexual exclusiva ou predominante para com pessoas do mesmo sexo. Reveste formas muito variadas através dos séculos e das culturas. A sua gênese psíquica continua em grande parte por explicar. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves, a tradição sempre declarou que 'os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados''' (Congregação para a Doutrina da Fé, no documento ''Persona Humana'' (1975), nº 8). ''São contrários à lei natural, fecham o ato sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afetiva e sexual e, não podem, em caso algum, receber aprovação (...). As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes do autodomínio, educadoras da liberdade interior e, por vezes, pelo apoio de uma amizade desinteressada, pelas orações e pela graça sacramental, podem e devem aproximar-se gradual e resolutamente da perfeição cristã'' (Catecismo, nº 2357 a 2359). O mesmo catecismo distingue entre os atos e as tendências homossexuais. A Sagrada Escritura e a tradição consideram os primeiros como faltas graves. As pessoas que apresentam tendências profundas devem ser acolhidas com respeito e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a elas, qualquer sinal de discriminação. O cristão não pode, entretanto, exaltar esse domínio como algo bom e aceitável.

À luz desse ensinamento, a Congregação para a Educação Católica, de acordo com a Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, considera necessário afirmar claramente que a Igreja, embora respeitando profundamente as pessoas em questão, não pode admitir ao seminário e às ordens sacras aqueles que praticam a homossexualidade, apresentem tendências homossexuais profundamente arraigadas ou apóiem a chamada ''cultura gay'' (idem nº 2). E acrescenta: ''Diversamente, no caso de se tratar de tendências homossexuais que sejam apenas expressão de um problema transitório como, por exemplo, o de uma adolescência ainda não completa, elas devem ser claramente superadas, pelo menos três anos antes da ordenação diaconal'' (Ibidem).

É oportuno lembrar que o início da elaboração desse documento antecedeu o conhecimento público do grave problema de pedofilia em elementos da Igreja nos Estados Unidos. Percentualmente, uma pequena minoria, mas que não deve deixar de preocupar os pastores, exigindo uma resposta eficaz.

A última parte da instrução da Congregação para a Educação Católica trata dos critérios de discernimento vocacional acerca das pessoas com tendências homossexuais e da sua admissão ao Seminário e às Ordens sacras.

A vocação é um dom de Deus. Repito que o simples desejo de servir ao Senhor não dá o direito de receber a sagrada ordenação, pois compete à Igreja definir os requisitos necessários. Para receber a ordenação diaconal, cabe à Igreja verificar, entre outras coisas, que tenha sido atingida a maturidade afetiva do candidato ao sacerdócio (nº 3). Assim, ''se um candidato pratica a homossexualidade ou apresenta tendências homossexuais profundamente radicadas, o seu diretor espiritual, bem como o seu confessor, têm o dever, em consciência, de dissuadí-lo de prosseguir para a ordenação'' (Ibidem).

O cardeal Zenon Grocholewski relaciona o longo caminho percorrido até a elaboração final do texto: ''Consultamos mais de uma Congregação da Cúria Romana: para a Doutrina da Fé, para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, para a Evangelização dos Povos, para o Clero, e para as Igrejas Orientais. Discutimos o documento, em três assembléias plenárias deste ano, das quais participaram 30 cardeais provenientes de todas as partes do mundo. É um documento que é fruto também de reflexão e discussão com especialistas na matéria''.

A divulgação desse documento da Sagrada Congregação para a Educação Católica interessa não apenas aos candidatos ao sacerdócio, mas revela a posição da Igreja sobre um assunto que está na ordem do dia. O cristão condena o que é contra a lei de Deus, mas acolhe o filho de Deus. Esse acolhimento não é sinônimo de aprovação do homossexualismo e evidentemente da ''cultura gay''. Jamais a divergência nos deve levar a qualquer violência, mesmo a das palavras.