Título: País em ebulição recebe Bush
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Fonte: Jornal do Brasil, 04/03/2006, Internacional, p. A13

O presidente dos Estados Unidos, George Bush, iniciou ontem sua primeira visita ao Paquistão, marcada por protestos e por uma greve geral convocada por partidos da oposição islâmica. A passagem de 24 horas pelo país está sendo controlada por um forte esquema de segurança, sobretudo depois que um ataque suicida diante do consulado dos EUA, em Karachi, matou um diplomata americano. Como na Índia, são esperadas mais manifestações em oposição à presença do presidente no país, última escala de sua viagem à Ásia.

A chegada de Bush ao Paquistão foi tensa. O Air Force One, avião em que viajou com sua mulher, Laura, e a secretária de Estado, Condoleezza Rice, aterrissou à noite em um aeroporto nos arredores de Islamabad, com as luzes apagadas. Recebidos pelo ministro paquistanês das Relações Exteriores, Khurshid Kasuri, foram levados imediatamente de helicóptero, também apagado, para a embaixada americana na capital paquistanesa. Bush se reúne hoje com o presidente Pervez Musharraf.

Mais de 10 mil militares, paramilitares e policiais paquistaneses estão em estado de alerta máximo no país. Islamabad foi vasculhada nos últimos dias para evitar possíveis atentados, especialmente nas áreas perto das quais passará a delegação americana. O Paquistão foi considerado pelo próprio Bush um ''amigo dos EUA'', e a visita ao país tem como objetivo fortalecer a guerra contra o terror, conduzida por Washington:

- Vou me encontrar com o presidente Pervez Musharraf para evocar a cooperação crucial do Paquistão na guerra contra o terrorismo e nossos esforços para favorecer um desenvolvimento econômico e político que possa reduzir o poder de atração do Islã radical - declarou o presidente americano.

Bush afirmou que vai pedir ao presidente paquistanês que tome mais providências para fechar campos militantes no Paquistão e para impedir a infiltração pela fronteira - uma reclamação, segundo ele, de líderes afegãos e indianos.

- Acredito em um Paquistão democrático e próspero que seria um parceiro sólido da América, um vizinho pacífico da Índia e uma força para a liberdade e a moderação no mundo árabe - acrescentou, antes de embarcar, em Nova Délhi, onde assinou um acordo para fornecer à Índia, tradicional rival do Paquistão, tecnologia norte-americana para uma usina nuclear civil.

Depois de sua declaração, um funcionário da Casa Branca ressaltou que Bush quis dizer ''mundo muçulmano'', em vez de ''mundo árabe''.

Sob o lema ''Bush, vá para casa'', milhares de manifestantes se mobilizaram ontem em todas as grandes cidades do Paquistão. A capital amanheceu paralisada pela greve convocada pela coalizão islamita Muttahida Majlis-e-Amal, cujo objetivo oficial era protestar contra a publicação na Europa de caricaturas de Maomé.