Título: Genérico salva vendas de laboratórios
Autor: Iolanda Nascimento
Fonte: Jornal do Brasil, 01/03/2006, Economia & Negócios, p. A19

O incremento nas vendas de genéricos e as exportações maiores livraram a indústria farmacêutica brasileira de amargar perdas mais significativas no ano passado. O setor finalizou 2005 com queda de 2,32% em unidades comercializadas, que atingiram 1,61 bilhão de caixas de medicamentos ante as 1,65 bilhão no ano anterior, conforme dados da Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Febrafarma).

Especialistas acreditam que a redução pode ter ocorrido em especial no segmento de remédios de venda livre com preços não controlados. O segmento elevou a média de preço por unidade em 13,8% ante 2004, para R$ 13,79, o que permitiu assegurar receitas maiores.

O faturamento nominal do setor subiu 11,12% em reais, para R$ 22,2 bilhões, na mesma base de comparação, e 35,14% em dólar (US$ 9,2 bilhões) no ano passado. A queda nas vendas físicas se deu sobre uma base forte, já que em 2004 o crescimento verificado foi de 10,3%, revertendo um ciclo de queda que se arrastava desde o final da década de 1990. Para a analista setorial da Lafis-Consultoria, Análises Setoriais e de Empresas, Carolina Marchiori Bezerra, o recuo não era esperada por conta da melhora em 2005 do rendimento do brasileiro, da massa salarial e do nível de emprego.

- Isso poderia ter aumentado o consumo, o que não ocorreu - ponderou.

Carolina avalia que a diminuição foi mais forte na área de medicamentos isentos de prescrição médica que estão fora da lista do governo de remédios sob controle de preços. Cerca de 15 mil apresentações têm preços controlados no Brasil e os reajustes para elas variaram de 5,39% a 7,39% no ano passado. No entanto, a alta no preço médio (extraído da quantidade de medicamentos vendidos dividida pelo faturamento nominal) em 2005 foi maior que esses percentuais.

- Os isentos sem controle podem ter puxado essa alta e reduzido as vendas por esse tipo de terapia, já que os tratamentos para doenças crônicas como as cardíacas, por exemplo, não são muito afetados por aumentos de preços, pois exigem regularidade no uso - observou Carolina.

O presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Medicamentos Isentos de Prescrição (Abimip), Aurélio Saez, afirmou que o segmento não percebeu queda brusca.

- Apenas 40% dos isentos têm preços livres de controle. O desempenho de alguns produtos isentos de prescrição médica acompanha o resultado do setor.

O segmento responde por 35% do total de unidades do setor e 30% do faturamento. Para Saez, a queda pode ser resultado da informalidade. A entidade avalia que a sonegação fiscal, a falsificação e o roubo de mercadorias podem representar em torno de 30% do mercado farmacêutico brasileiro.

- Talvez o mercado nem tenha caído - disse Saez, observando que a Abimip tem intensificado conversações com o governo para combater esses crimes.

Em relação à alta do preço médio, Saez observou que o faturamento é nominal e, quando descontada a inflação do período, a elevação é menor.

- Além disso, o mercado é muito sensível. Se o fabricante aumenta muito o preço, perde em vendas.

A queda no consumo poderia ter sido pior se não fosse o aumento no consumo de genéricos (23,2% em 2005, com 151,4 milhões de unidades) e das exportações, que cresceram 34,7% em valor, para US$ 473,29 milhões, e 23,3% em volumes, somando 26,3 mil toneladas.

- As vendas externas também contribuíram para a produção industrial 14,5% maior em 2005 - disse Carolina, com base em dados do IBGE.

As compras externas também foram maiores na comparação dos períodos. Subiram para US$ 2,03 bilhões, alta de 14,1%, e 20,24 mil toneladas superior em 0,3%. O dólar fraco, além de não atrapalhar as exportações pelo incremento que tiveram, ajudou na redução dos custos dos insumos importados pelas empresas já que o preço médio desses produtos caiu 9,7% em 2005 ante 2004.

Para Carolina, porém, o produto vendido no mercado interno, porém, ficou mais caro quando comparado ao preço médio do produto brasileiro exportado.

O preço médio dos importados ficou em US$ 99,08 mil a tonelada, de janeiro a novembro de 2005, e do exportado, US$ 18,04 mil a tonelada.

- O que mostra que exportamos produtos com baixo valor agregado - afirmou Carolina.