Título: Muito longe dos presidentes
Autor: Juliana Rocha
Fonte: Jornal do Brasil, 05/03/2006, País, p. A3
Longe das estatísticas que apontam o aumento de popularidade e o crescimento de Lula nas pesquisas de intenção de voto, Maria Célia da Conceição ainda acreditava que Fernando Henrique Cardoso governa o Brasil. Analfabeta aos 50 anos, gosta de ver TV e ouvir rádio na casinha de um um cômodo, mas o noticiário passa ao largo da programação. A super-exposição do presidente na mídia, portanto, não chegou à casa. Mãe de sete filhos, com o marido desempregado há três anos, Maria Célia mora em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, e sustenta a prole com os R$ 240 que ganha por mês fazendo faxina duas vezes por semana, mais os R$ 95 do Bolsa-Família. Hipertensa, às vezes é obrigada a faltar um dia de trabalho, o que significa R$ 30 a menos no orçamento familiar. Por isso, tem medo de perder o benefício, mas até agora não sabia de onde vem o dinheiro que garante o arroz e o feijão na mesa.
- As minhas meninas não ligam para carne. Às vezes trago uma lingüiça ou um ovo para dar gosto - conta Maria Célia, explicando que as compras de supermercado se limitam a açúcar, sal, macarrão e fubá.
A faxineira diz que foi uma vereadora a responsável pelo cadastramento no programa, em 2004. Dois meses depois, recebeu uma carta da Caixa Econômica Federal para retirar o cartão-cidadão, com o qual saca o dinheiro em uma casa lotérica.
Depois de informada que o benefício era concedido pelo governo federal, na administração Lula, ela diz que poderia até votar no presidente, mas também gostaria de dar uma oportunidade ao ex-governador Anthony Garotinho de chegar ao Planalto.
- É uma escolha dura, mas acho que vou ficar com o Lula. Imagina se entra outro presidente e deixa a gente não mão - diz a faxineira.