Título: O volúvel eleitorado da periferia
Autor: Juliana Rocha
Fonte: Jornal do Brasil, 05/03/2006, País, p. A3

Maria Aparecida Ananias Loura, de 34 anos, moradora de Queimados, foi avisada pela professora da escola onde os dois filhos estudam que poderia receber o Bolsa Família, já que o marido, José Loura, ganha apenas um salário mínimo, como gari. O casal não sabe explicar, porém, a origem do complemento de renda que garante a compra dos remédios da filha de 11 anos com problemas hormonais.

Aparecida recorda que votou em Lula nas eleições de 2002. Mas, desiludida, diz não estar disposta a votar em ninguém no pleito deste ano. Quando informada de que o benefício vem do governo federal, o marido se apressa em dizer que a família sempre gostou de Lula e vai continuar votando no presidente.

Para o cientista político da UFMG Fábio Wanderlei Reis, esta família é um indicativo de que o presidente Lula terá de ser enfático ao clamar, no programa eleitoral, a paternidade do programa social. Lembra, porém, que esta não será garantia para atrair os votos dos beneficiários.

- É uma besteira essa história de que Lula tem a garantia dos votos de todos que recebem o Bolsa Família. São pessoas que vivem em condições precárias e desatentos à política. Um eleitorado volúvel - explica, lembrando que, no início da crise política, Lula caiu nas pesquisas de intenção de votos principalmente entre os eleitores que recebem até um salário-mínimo - pessoas que já recebiam a bolsa - e voltou a crescer nesta faixa de renda, mesmo sem o aumento da benesse.