Título: O mapa dos acordos de Lula
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 05/03/2006, País, p. A4

BRASÍLIA - Em recente conversa com o ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva gabou-se de ser o único candidato em condições de ganhar eleição com ou sem a verticalização - regra pela qual as alianças nos estados devem observar a lógica nacional. Para não ser acusado de usar estrutura de uma legenda fora da coligação, pretende lançar mão de truques que vão multiplicar a presença em palanques de diferentes partidos, até do arquiinimigo PSDB. Embora o Planalto ainda trabalhe com a possibilidade da liberação das alianças, independentemente da manutenção ou não da regra, o cenário eleitoral se descortina a partir de um céu de brigadeiro para o presidente. Levantamento preliminar feito pelo Palácio do Planalto revela que Lula pode ter 54 palanques em todo o país - o que corresponde a dois por estado - e ver sua candidatura turbinada pelo apoio de até 11 governadores.

O PT planeja lançar candidato próprio em 22 estados, mas Lula não irá se manter fiel ao palanque petista. O presidente poderá discursar lado a lado com candidatos do PMDB em 17 estados, do PSB em quatro; do PPS, PCdoB, PTB e PDT em dois; e nos palanques de PRB, PL, PFL e PSDB em um. Ainda há a possibilidade de o presidente freqüentar eventos das chamadas legendas nanicas, como o PSL, PSC, PMR, interessadas em surfar na onda de popularidade do presidente petista. Sexta-feira, o Tribunal Superior Eleitoral votou pela manutenção da verticalização.

A legislação eleitoral, no entanto, não veda a presença dos candidatos em comícios e eventos patrocinados por partidos que não façam parte da coligação oficializada no TSE. Ou seja, mesmo que o PMDB lance candidato próprio à Presidência, não há nenhum impedimento para que governadores da legenda abram o palanque ao presidente Lula, se assim desejarem. Pela lei, com a verticalização, o candidato do partido A que não se coligar com o B no âmbito nacional só não pode se valer da estrutura partidária do mesmo nos estados, como tempo de TV e outdoors. A chamada aliança branca é uma prática corriqueira no país. Nas eleições de 2002, por exemplo, o então candidato a presidente José Serra (PSDB) teve como vice a deputada Rita Camata (PMDB-ES).

A aliança dos dois partidos no plano nacional, no entanto, não impediu que o então candidato ao governo do Paraná, Roberto Requião, recebesse Lula no palanque. O mesmo ocorreu com o candidato ao governo de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira (PMDB). Em Rondônia, por exemplo, Lula conta com o apoio do governador e candidato à reeleição Ivo Cassol (PPS), expulso do PSDB por suspeitas de corrupção. Outros dois palanques aguardam o presidente: o do PT, que deve concorrer ao governo com a senadora Fátima Cleide, e do PMDB. O partido pretende lançar ao governoMelki Donadon, ex-prefeito do município de Vilhena. No Amapá, do senador do PMDB governista José Sarney, o presidente deverá ser recebido nos palanques dos senadores Papaléo Paes (PMDB) e João Capiberibe (PSB), e da ex-governadora e atual secretária de Assuntos da Federação do PT, Dalva Figueiredo.

Em Pernambuco, Lula conta com o apoio de dois ex-ministros: o da Saúde, Humberto Costa (PT), e o da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos (PSB). Quem também articula candidatura e deve abrir palanque para Lula no estado é o deputado e presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro (PTB).