Título: Entrevista: Maílson da Nóbrega
Autor: Mariana Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 05/03/2006, Economia & Negócios, p. A17

Para o ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, hoje sócio da consultoria Tendências, a Constituinte de 1988 legou ao país uma herança maldita de gastos excessivos do Estado e baixas taxas de crescimento econômico. Isso, porque, segundo o economista, os gastos obrigatórios criados para o governo imobilizaram o Estado em uma camisa-de-força. ¿ Em 1987, o Brasil gastava 4% do PIB em Previdência e já era um dos maiores. Hoje é de 13%. Na Coréia, esse gasto não passa de 1,5% e nos Estados Unidos, é de 6%. Ou seja, gasta-se aqui tanto quanto nos países ricos europeus, que têm uma população idosa muito maior do que a brasileira ¿ enfatiza. A seguir, trechos da entrevista concedida ao JB.

- Qual é a explicação para o Brasil crescer a taxas tão baixas há 20 anos?

- O modelo econômico empregado até os anos 70, o nacional-desenvolvimentismo, chegou exaurido aos anos 80, financiado por déficits externos, e foi sepultado com a crise da dívida externa, em 1982. Em 1988, enquanto todo o mundo caminhava para o modelo de democracia e economia de mercado, o Brasil inventava a democracia com estatismo. Grupos de interesse aprovaram a Constituição olhando para o retrovisor, e o que seria uma festa cívica determinou um futuro de baixo crescimento para o país. O Brasil gasta mais hoje com idosos do que com crianças. Dá ênfase aos gastos correntes e não aos investimentos. É um milagre que se cresça 2,5%, 3% com esse acúmulo de distorções. Enquanto o governo federal investiu, no ano passado, 0,5% do PIB, o déficit da Previdência atingiu 6%. Ou seja, o governo gasta 12 vezes mais com benefícios do que com investimentos.

- Como reverter esse quadro?

- Quem defende uma mudança da política econômica como forma de crescer é primo-irmão dos que trabalharam na redemocratização. Também não é possível comparar o Brasil a emergentes como a Índia e a China. Crescimento não é apenas questão de querer. Nenhum desses países tem a situação fiscal brasileira, nenhum passou por um vendaval como em 1988, tampouco têm uma legislação trabalhista tão retrógrada ou uma deterioração de infra-estrutura como a que ocorre no Brasil. Muitos acham que o seu sucesso é só juros baixos e câmbio alto, mas a Índia levou 20 anos para colher os frutos das mudanças que promoveu na economia e na educação.

- O que o próximo governo pode fazer para melhorar o quadro?

- Nosso crescimento vai depender da capacidade de liderança do novo presidente para mobilizar o país nas reformas que são necessárias.