Título: Entrevista: João Sicsú
Autor: Mariana Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 05/03/2006, Economia & Negócios, p. A17

Ao contrário do que muitos economistas pensam, a culpa pelo crescimento medíocre da economia na última década é da política econômica. Para o professor do Instituto de Economia da UFRJ, João Sicsú, o país cresce pouco porque o ¿modelo empregado é inadequado¿. A saída, de acordo com o economista, é fazer uma política cambial mais favorável aos exportadores, além de investir em uma pauta de vendas externas mais valiosa do que a atual, basicamente agrária. Mas não pára por aí. Os juros, atualmente em 17,25% ao ano, poderiam ser cortados à metade e, com isso, as despesas cairiam também à metade. A seguir a entrevista do economista ao JB.

- Qual é a explicação para o Brasil crescer a taxas tão baixas há 20 anos?

- As políticas específicas - comercial e industrial - só funcionam se a macroeconomia for adequada. E o modelo empregado no Brasil não é voltado para o desenvolvimento e, sim, unicamente focado no controle de preços. De 1999 para cá, a política tornou-se particularmente inadequada, uma vez que é escrava das taxas de juros elevadas e não estimula investimentos. É mais vantajoso comprar títulos do que aumentar a produção. A política fiscal restritiva priva a sociedade de infra-estrutura, educação e atendimento de saúde. A política cambial, o terceiro pé da macroeconomia, é flutuante e volátil, o que dificulta transações comerciais com o exterior.

- Mas isso só explica o desempenho recente da economia.

- Até os anos 70, o Brasil cresceu 14% ao ano. O que atrapalhou no período posterior foi a alta inflação, que dificulta os investimentos. Mas as políticas de desenvolvimento eram adequadas. Tinha-se juros baixos, câmbio estável e investimentos em infra-estrutura. Contida a inflação, esse modelo poderia continuar sendo seguido. Se até então éramos incompetentes em combater a inflação, depois de debelado este mal, fomos incompetentes ao adotar um mode lo inadequado.

- Como reverter esse quadro?

- Com baixas taxas de juros, investimentos em infra-estrutura e câmbio adequado às exportações. Fizemos a primeira liberalização de capital em 1992, em 1999, adotamos o superávit primário e os resultados nunca chegam. O Brasil sempre foi um bom aluno de um modelo não adequado. A Argentina se libertou e hoje não é mais uma boa aluna, mas tem bons resultados. É preciso mudar o patamar de investimentos - que hoje é muito baixo - e para isso se alterar, é necessário que o governo recupere a liderança no crescimento.