Título: Bispos criticam programas sociais e política econômica do governo
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 02/03/2006, País, p. A2

O lançamento da Campanha da Fraternidade, ontem, foi marcado por duras críticas à política econômica e aos programas sociais do governo Lula. Em São Paulo, o arcebispo cardeal Claudio Hummes lamentou o fato de o PIB só ter crescido 2,3% em 2005, ''muito abaixo das previsões''. Em Brasília, o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Odilo Pedro Scherer, criticou as políticas sociais que ''não correspondem às expectativas da sociedade''. Dom Claudio Hummes alertou que o baixo desempenho da economia vai fazer o eleitor ''refletir sobre os rumos do país''. Não quis falar, no entanto, sobre eventuais apoios ou indicações de nomes, pela Igreja Católica, ''que só acontece em casos excepcionais, o que não ocorre este ano''. Na visão de dom Odilo Scherer, o país esperava por políticas sociais ''mais eficazes''.

- Podemos dizer que a expectativa era maior. A sociedade tem expectativas de políticas sociais um pouco mais eficazes, para a superação do abismo que existe na distribuição de renda no Brasil - acrescentou dom Scherer.

Para o bispo, há grande concentração de renda no país devido à política econômica do governo.

Estudo divulgado recentemente pela Fundação Getúlio Vargas mostra pequeno avanço no governo Lula. Segundo o estudo, a miséria atingiu em 2004 seu patamar mais alto, desde 1992. O bispo reivindica, no entanto, que o governo altere a política econômica, com o objetivo de estancar o lucro dos grandes bancos.

- É preciso rever isso. O paraíso financeiro é o Brasil - arrematou dom Scherer.

A exemplo do arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer também demonstra preocupação com o pequeno crescimento do PIB do país, no ano passado. A política econômica, disse, é ''extremamente concentradora'' e não está voltada para a inclusão social das camadas pobres. O presidente teria sido impedido de ser ''coerente com suas propostas'', acredita dom Scherer.

- A sociedade espera que o governo atenda a população e suas necessidades, mais do que as pressões que possam vir de algum lado para beneficiar este ou aquele - avisou.

Para o secretário-geral da CNBB, os candidatos à Presidência da República deverão ser cobrados mais fortemente em vários aspectos, principalmente em relação a programas de criação de empregos e distribuição de renda, com o fim de reduzir as desigualdades.

- Temos de diminuir a sangria de recursos do Brasil, que vão acabar nas mãos de grandes grupos econômicos - aconselhou dom Scherer.

O bispo espera que o resultado das comissões parlamentares de inquérito no Congresso ajudem a sociedade a ''superar a cultura de corrupção'' na gestão dos recursos públicos. Para dom Scherer, as CPIs expuseram a ''chaga'' da corrupção. O secretário-geral da CNBB quer que os candidatos à Presidência debatam suas propostas com a sociedade, que deve continuar cobrando as promessas após a eleição.

Dom Scherer não é a favor da extinção das políticas assistencialistas. Acredita que os pobres estariam em condições bem piores sem programas iguais ao Fome Zero, mas sugere que o governo vá além destas políticas, revendo a estratégia para criação de empregos e reduzindo os juros.

O tema da Campanha da Fraternidade este ano é Fraternidade e pessoas com deficiência. No texto-base da cartilha divulgada ontem a Igreja convoca os portadores de necessidades especiais a lutarem pelos seus direitos.

O documento alerta que as conquistas são resultado de lutas individuais e coletivas. O recado da CNBB para o deficiente é ''Levanta-te, vem para o meio!'', inspirado numa passagem do evangelho de São Marcos, em que Jesus Cristo cura um homem de mão atrofiada que estava desprezado no fundo de uma sinagoga.