Título: Dinheiro fez história
Autor: Daniel Pereira e Luiz Orlando Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 02/03/2006, País, p. A3

Em uma suposta tentativa de burlar o fisco e a lei, Marcos Valério Fernandes de Souza - apontado como o operador do mensalão - eternizou as malas no imaginário brasileiro. Até hoje ele não conseguiu explicar por que transportou tanto dinheiro vivo. No início das investigações do mensalão, a CPI descobriu saques de R$ 20 milhões em espécie em um curto período.

O caminho do dinheiro vivo é um recurso muito comum no custeio das campanhas políticas. Como nem todos os ''contribuintes'' fazem uso de contas fantasmas e destinatários laranjas para mascarar transações ilícitas, os recursos em espécie funcionam como alternativa para fugir da fiscalização financeira. Além disso, as contribuições em dinheiro também acontecem em casos nos quais o contribuinte deseja ocultar o nome para depois obter benefícios do candidato vitorioso.

No rastro do escândalo do mensalão, surgiram histórias pitorescas envolvendo o transporte de dinheiro. A mais inusitada é a do ex-dirigente do PT José Adalberto Vieira. Ele era assessor do irmão do petista José Genoino, o deputado estadual José Nobre Guimarães. No início de julho, ele foi flagrado com R$ 100 mil dólares na cueca e R$ 209 mil em uma mala. As investigações apontam que o dinheiro seria usado para financiar campanha do PT cearense.

Poucos dias depois dos dólares na cueca, o deputado federal João Batista (PP) foi preso com R$ 10 milhões em uma mala. Ele alegou que o dinheiro seria de doações de fiéis da igreja Universal do Reino de Deus. Mas a polícia encontrou notas de 50 em série. Depois do flagrante, o deputado foi expulso do PFL.

Em 2002, uma quantia grande de dinheiro vivo derrubou uma pré-candidatura. A senadora Roseana Sarney despontava nas pesquisas de intenção de votos quando a Polícia Federal descobriu R$ 1,3 milhão no cofre da empresa do marido da parlamentar. Ela admitiu que o dinheiro financiaria a campanha presidencial.