Título: Vinho fermenta a indústria de eventos
Autor: Bruno Agostini
Fonte: Jornal do Brasil, 05/03/2006, Economia & Negócios, p. A20

De carona no aumento do consumo de vinhos finos pelos brasileiros, o calendário de eventos enológicos multiplica-se, fermentando a economia do país. Estima-se que os produtores brasileiros movimentem US$ 1 bilhão por ano, valor que soma-se a outros US$ 100 milhões de produtos importados - valor bruto, que chega a US$ 400 milhões considerando tributos e lucros da cadeia de distribuição. Feiras, encontros, congressos, simpósios, cursos, degustações e toda a sorte de reuniões e feiras enófilas são organizadas por entidades ligadas à bebida de Baco, como importadores, produtores, associações e confrarias, além de hotéis e restaurantes que vêem no fermentado de uvas lucrativo horizonte.

- O vinho tem uma particularidade que incentiva este tipo de evento. Cada ano, cada safra, produz um resultado diferente, o que também contribui para o poder de sedução que ele exerce. É preciso, portanto, apresentar as novidades a donos de restaurantes e de lojas especializadas, por exemplo, além dos próprios consumidores finais - avalia Celso La Pastina, dono da World Wine, uma das maiores importadoras do país.

O Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) calcula em cerca de 40% o crescimento anual de eventos do setor, que acabam, por tabela, também injetando recursos indiretos na indústria do turismo.

- A oferta hoje é imensa. Nem é possível contar o número de eventos ligados ao vinho que acontecem no Brasil atualmente. Mas, entre tantos, há os mais importantes, já consolidados no calendário, como a Expovinis e o Boa Mesa, por exemplo - comenta Mônica Milani, que presta assessoria de marketing para o Ibravin.

Entre os cinco principais acontecimentos envolvendo vinhos no Brasil, cada um apresenta características distintas: a Expovinis Brasil - Feira Internacional do Vinho, por exemplo, é mais voltada a profissionais (como importadores, distribuidores, representantes, atacadistas, produtores e sommeliers), embora também receba consumidores, em horário específico, no final de cada dia. Este ano, o maior salão internacional de vinhos da América Latina chega à décima edição, esperando aumentar em cerca de 30% o número de visitantes em relação ao ano passado, quando 12 mil pessoas circularam entre os estandes de 190 expositores, que representavam quase 500 vinícolas de mais de uma dezena de países. Além de vinhos, licores, destilados e outras bebidas, a feira apresenta máquinas e equipamentos para a produção, além de utensílios domésticos, como decantadores, termômetros, adegas, saca-rolhas etc.

A ela somam-se outros eventos, como o Boa Mesa, em São Paulo, Belo Horizonte e Florianópolis, naturalmente casando gastronomia com vinhos e outras bebidas; o Encontro Internacional de Vinhos de Pedra Azul (ES), a mais importante e famosa degustação do país, trazendo a cada edição alguns dos mais prestigiosos enólogos e rótulos de todo o mundo; e a Vinotech, dedicada a equipamentos e tecnologias de vinificação, que acontece em Bento Gonçalves (RS), considerada a capital brasileira do vinho e de onde saem alguns dos melhores vinhos do Brasil, além de ser a sede da única universidade de enologia do país. Fecha a lista a Avaliação Nacional de Vinhos, que este ano chega à 14ª edição. O evento é uma inovação brasileira, investindo em uma eleição nacional prestigiada por toda a indústria. Como não poderia deixar de ser, acontece também em Bento Gonçalves, sempre entre os meses de agosto e setembro. Ano passado, foram 78 especialistas degustando durante 18 dias nada menos que 368 amostras.

- A finalidade é fazer uma análise isenta e correta da produção brasileira a cada ano. Como as degustações são às cegas, não há chance de manipulação, sem falar que são todos profissionais respeitados os componentes do júri - conta o presidente da Associação Brasileira de Enologia (ABE), Dirceu Scottá, enólogo da vinícola Dal Pizzol.