Título: Em busca do poder
Autor: Israel Tabak
Fonte: Jornal do Brasil, 06/03/2006, País, p. A3

A entrada maciça dos evangélicos na política aconteceu quando as igrejas pentecostais começaram a se desenvolver e a sobrepujar, em número de fiéis, as chamadas igrejas ''tradicionais'' (batistas, presbiterianas, metodistas, congregacionais, entre outras). - Os líderes pentecostais abandonaram a tradição de não se envolver em política e passaram a indicar candidatos aos fiéis. Era uma forma de mostrar visibilidade, de participar mais dos centros de poder. Os políticos logo perceberam a importância dessas igrejas, como pontos de mobilização e agregação - relata Flávio Conrado.

As igrejas, muitas vezes em lugares de carência absoluta, representam, nesses locais, o mais organizado diretório regional que um político poderia desejar.

Mas não se pense que o voto é automático e totalmente disciplinado. Se Garotinho foi bem votado até em rincões evangélicos distantes de sua principal base eleitoral, mesmo assim foi sobrepujado por Lula, em todo o Brasil, nessa esfera religiosa.

- Isso é a prova de que fé e religião não são suficientes para definir os votos da maioria dos brasileiros - avalia Flávio Conrado.

O professor Alexandre Brasil vai mais adiante ao citar números para desmentir a antiga assertiva de que ''irmão vota em irmão''.

- O voto em pessoas da mesma confissão abrange entre 10 a 20% dos evangélicos. Mesmo na Igreja Universal, que é a mais arrojada e alcança maior sucesso em conseguir a fidelidade dos votantes, a percentagem não passa de 50%. Apesar da orientação e da insistência dos pastores, portanto, a metade dos fiéis não segue a orientação oficial.

O Movimento Evangélico Progressista não aconselha os fiéis a votar em alguém ''só por ser evangélico''. São necessárias outras qualidades para quem quiser se tornar representante do povo, explica Juliano Finelli. Segundo o dirigente, o púlpito deve servir apenas para a pregação e orientação religiosa. Para Finelli, as igrejas, no entanto, ''em horários e recintos apropriados'' podem e devem promover debates ampliados com diversos candidatos.

A definitiva inserção política dos evangélicos também pode ser comprovada pela existência de ''conselhos políticos'' em várias igrejas. A Universal criou o primeiro destes conselhos, em 1982.

- Um fato significativo é que setores novos estão participando pela primeira vez da vida política, discutindo programas, propostas de candidaturas, apoios. Isso é ótimo para a democracia brasileira - resume Alexandre Brasil. (I.T.)