Título: A máquina atraente
Autor: Israel Tabak
Fonte: Jornal do Brasil, 06/03/2006, País, p. A3

A polarização entre as duas principais igrejas pentecostais, a Universal do Reino de Deus (IURD) e a Assembléia de Deus, direciona as estratégias dos pré-candidatos em busca de fatias do voto evangélico. Para o PT, a máquina estatal é um dos atrativos para para conquistar a Universal. Apesar de afirmar o desejo de lançar candidatura própria, os fiéis da IURD devem se dedicar ao projeto de reeleição de Lula. Essa é a opinião do ex-bispo da Universal e ex-deputado Carlos Rodrigues. Ele afirma que o apoio da Universal a Lula é garantido. A moeda de troca seria o apoio do governo, em forma de anúncio das grandes estatais, por exemplo, na Rede Record, que pertence ao bispo Edir Macedo.

- A Universal vai fechar com o Lula, porque a TV Record precisa, entre outras coisas, de verbas do governo federal. A emissora está fazendo investimentos altíssimos. É claro que nisso estão embutidos acordos políticos - afirmou o ex-bispo, articulador do apoio evangélico a Lula nas eleições de 2002.

A Rede Record entrou em franca ascensão em 2005. Fez grandes investimentos no jornalismo e na teledramaturgia. Mais cauteloso, o senador Marcelo Crivella (PRB), um dos possíveis candidatos ao governo do Rio, diz que nem a Universal nem o PRB - partido que nasceu no seio da igreja - fecharam acordo com Lula.

- Pensamos em lançar candidatura própria à Presidência. Se houver apoio à candidatura de Lula, não será uma adesão sem a gente negociar um projeto.

Conhecido pelos líderes da Universal como ''aquele que não cumpre acordo'', Garotinho entra na disputa pelo voto evangélico com o apoio incerto da Assembléia de Deus. Ao contrário da IURD, a Assembléia não constitui corpo tão uniforme. Os representantes da igreja dividem-se quanto ao apoio a Garotinho e, de carona na dúvida peemedebista sobre o melhor candidato, acendem uma vela para o PMDB e outra para o PSDB.

- A preferência sentimental da Assembléia é Garotinho. Precisamos ver se o PMDB vai escolher o ex-governador. O prefeito de São Paulo, José Serra, é bem aceito - afirma o pastor Elyeo Pereira, líder fluminense da Convenção Geral das Assembléias de Deus.

Quando se refere ao governador Geraldo Alckmin, no entanto, o pastor afirma que o ''catolicismo conservador'' pode se constituir num empecilho a um eventual apoio.

O deputado federal João Mendes (PSB-RJ), da Universal, conta que seus colegas da bancada evangélica da Câmara estão divididos.

- Muitos evangélicos têm conversado, mas não há consenso. A Assembléia de Deus pensa no PSDB. O dia da verdade será o primeiro de abril - disse referindo-se a data limite para descompatibilização dos cargos públicos, em relação ao prefeito Serra.

Magoado com Garotinho depois das eleições para o Senado em 2002, o bispo Manoel Ferreira (PTB), provável candidato à Câmara e um dos líderes da Assembléia no Rio, não nega nem confirma apoio ao ex-governador.

- Aguardo uma conversa com Garotinho. Tudo depende da orientação do PMDB. Tenho sido procurado por outros candidatos - diz o bispo, que acompanhou Lula na visita a Queimados, em janeiro.