Título: Jerusalém Oriental vai às urnas
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Fonte: Jornal do Brasil, 23/11/2004, Internacional, p. A9
Premier Ariel Sharon se compromete com Colin Powell a permitir que palestinos que vivem na cidade participem da eleição
Israel eliminou um obstáculo importante para as eleições presidenciais palestinas ao aceitar a participação dos palestinos de Jerusalém Oriental na votação que decidirá o sucessor do ex-presidente Yasser Arafat, morto há duas semanas, ainda que se negue a abrir mão de sua soberania sobre a Cidade Santa.
O premiê israelense, Ariel Sharon, se comprometeu claramente ontem com os EUA a permitir que 220 mil palestinos da parte oriental de Jerusalém, ocupada pelo Estado Judeu desde 1967, participem das eleições, previstas para 9 de janeiro.
A participação dessas pessoas no pleito era considerada obrigatória para a Autoridade Nacional Palestina.
- Não aceitaremos eleições que não incluam Jerusalém e seus habitantes - reiterou semana passada o premier Ahmed Qorei, eleito deputado por Jerusalém Oriental em 1996. - Não deve haver um exército de ocupação nos territórios palestinos durante as eleições.
Formalmente, o governo israelense ainda não tomou uma decisão, mas Sharon, cuja opinião é determinante, já anunciou ao secretário de Estado americano, Colin Powell, que é favorável a esta participação.
Segundo um comunicado oficial, o premier ressaltou que Israel deve permitir o voto dos árabes dessa área, como ocorreu no passado, mas que a questão será debatida nos foros apropriados.
Por outro lado, o chanceler israelense, Sylvan Shalom, que se opôs a que os palestinos de Jerusalém Oriental participassem do processo de votação, teve que aparentemente recuar.
Nas eleições de janeiro de 1996, os palestinos puderam votar, mas os colégios eleitorais ficavam na periferia da cidade, fora do território anexado, enquanto os cidadãos residentes enviaram suas cédulas de votação através do correio.
Em declarações, Powell reforçou a importância de os palestinos de Jerusalém Oriental participarem das eleições.
- Há um precedente que pode resolver a questão - frisou Powell, que pediu demissão na semana passada.
No entanto, os palestinos se mostraram céticos:
- Não acreditamos nessas declarações de Israel - afirmou Yasser Abed Rabbo, da Organização pela Libertação da Palestina (OLP).
Mais tarde, em Jericó, na Cisjordânia, o secretário de Estado se reuniu com Mahmoud Abbas, líder da OLP, com Ahmed Qorei, primeiro-ministro da Autoridade Nacional Palestina (ANP), e com outras autoridades palestinas, para manifestar apoio às eleições e pedir mais esforços na luta contra o terror.
No entanto, os palestinos levantaram várias questões durante o encontro, que incluíram os contínuos assassinatos por Israel e a crise financeira nos territórios ocupados. Eles ainda apresentaram um documento com estatísticas sobre o impacto do ''muro de segurança'' na Cisjordânia e a ampliação de assentamentos judeus.
- Pedimos o fim definitivo dos assentamentos - disse o chefe palestino para negociações de paz, Saeb Erekat. - Tudo o que recebemos foi um forte comprometimento dos EUA para a realização de eleições justas e livres - acrescentou.