Título: Tiros do Exército em Vigário Geral
Autor: Marcello Gazzaneo e Marco Antonio Barbosa
Fonte: Jornal do Brasil, 06/03/2006, Rio, p. A5

A operação deflagrada pelo Exército em dez favelas do Rio para reaver o armamento roubado do quartel do Estabelecimento Central de Transportes (ECT), em São Cristóvão, na madrugada de sexta-feira, já registra seu primeiro confronto. No fim da noite de sábado, ao tentarem cumprir um mandado de busca na favela de Vigário Geral, na Zona Norte, militares trocaram tiros com traficantes da facção Comando Vermelho. Segundo relatou o relações-públicas do Comando Militar do Leste (CML), coronel Fernando Lemos, a tropa foi recebida a tiros pelos traficantes. Os militares, segundo o oficial, revidaram, mas o comando decidiu se retirar de Vigário Geral.

- Já era noite e para não colocar em risco moradores da comunidade o Exército se retirou. Foi um confronto rápido, porque a tropa teve de se defender. Hoje (ontem) de manhã voltamos lá e não houve incidentes - revelou o coronel.

O oficial contou que a operação foi realizada a partir de informações recebidas pelo Setor de Inteligência do Exército, indicando que o armamento roubado estaria em Vigário. Ele ressaltou que o objetivo da operação é recuperar os dez fuzis e a pistola 9mm roubados do ECT e não a repressão ao tráfico de drogas nas favelas ocupadas.

Para isso, de acordo com o coronel, o Exército continua ampliando suas ações. Ontem também foram ocupados os Morros da Providência, no Centro, e do Dendê, na Ilha do Governador. Com isso, já são dez as favelas sob ocupação dos militares, com a utilização de pelo menos 750 homens de diversas unidades.

Oficiais da reserva ouvidos pelo JB admitem a possibilidade do Exército fazer operações em favelas da Zona Sul ainda esta semana.

As buscas, que contam ainda com o apoio de 150 policiais civis e militares, também tentam localizar um ex-cabo do Exército suspeito de participar do roubo ao ECT. Até o fim da noite de ontem, nenhum armamento havia sido localizado e nenhuma prisão fora feita. Em nota divulgada ontem, o CML reiterou que as operações continuarão até que sejam recuperadas as armas.

No comunicado, o CML mostrou que está se preparando para uma das operações mais longas em favelas do Rio nas últimas décadas. Segundo a nota, tropas de Goiânia e de Brasília já foram mobilizadas para ajudar nas operações, caso seja necessário. De acordo com o órgão, ''qualquer tropa do Exército poderá ser mobilizada para atuar na cidade do Rio em poucas horas''. Um helicóptero também já foi disponibilizado.

A tropa de Goiânia, informou o coronel Fernando Lemos, é uma das mais especializadas do Brasil, com treinamento de combate à guerrilha urbana. A nota do CML mostrou que a tendência é que os militares ampliem as ocupações.

- As operações de inteligência continuam sendo realizadas para obtenção ou confirmação de indícios importantes para recuperação do armamento - informou o CML.

Os 750 militares em operação têm se posicionado nos acessos das favelas, onde carros e pedestres são revistados.

- Os soldados não têm permissão de entrar nas comunidades. Se alguém tem que entrar, é a PM - disse um sargento, sem se identificar, em uma das entradas de Nova Brasília, no Complexo do Alemão, em Ramos.