Título: Para policiais, ação não tem alvo específico
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Fonte: Jornal do Brasil, 07/03/2006, Rio, p. A7

Investigadores da Polícia Civil criticam a operação deflagrada pelo Exército para reaver o armamento roubado do quartel, em São Cristóvão, na madrugada de sexta-feira. Segundo eles, a ação de asfixia do tráfico nas favelas parece não ter alvo específico. As tropas ocupam 12 favelas dominadas por diferentes facções criminosas. Há suspeitas de que traficantes ligados à facção Comando Vermelho (CV) estejam com os 10 fuzis e a pistola roubados. Ontem, foi criada uma força-tarefa que vai integrar as unidades operacionais e as áreas de inteligência da Secretaria de Segurança Pública e do Exército. Desde a sexta-feira passada, o serviço Disque-Denúncia (2253-1177) recebeu 154 informações sobre o paradeiro do armamento roubado. As denúncias levaram as tropas do Exército para favelas dominadas pelas facções do CV, Amigos dos Amigos (ADA), Terceiro Comando (TC) e Terceiro Comando Puro. Entretanto, investigadores da Polícia Civil acreditam que as ações do Exército deveriam ser concentradas nas favelas da Grota e da Fazendinha, no Complexo do Alemão. O traficante Márcio Nepomuceno, conhecido como Marcinho VP, um dos líderes do Comando Vermelho, que está preso em Bangu, controla as ações dos traficantes no Complexo do Alemão.

- Se a Grota e a Fazendinha fossem sufocadas, o Marcinho VP iria determinar que o CV entregasse os fuzis - garante o investigador.

A presença do Exército no Complexo do Alemão já interfere no comércio de drogas da região. No fim de semana, por causa da ocupação militar, os bailes funk nas favelas da Chatuba e Canitá foram suspensos. Agentes do serviço reservado da Polícia Militar garantem que a presença das tropas ainda não inibiu a venda de drogas no interior das favelas.

- As tropas ficam no acesso das favelas o que atrapalha o comércio externo - explicou um policial.

O relações-públicas do Comando Militar do Leste (CML), coronel Fernando Lemos, não acredita que o roubo do armamento do quartel esteja ligado a uma facção criminosa. O Exército investiga a participação de um ex-cabo na ação criminosa. Por meio de nota oficial, o general Domingos Curado, comandante do CML, e o secretário de Segurança Pública, Marcelo Itagiba, justificaram que a criação da força-tarefa tem o objetivo de fornecer suporte ao inquérito policial militar aberto para investigar o roubo do armamento do quartel.