Título: Rússia mantém embargo à carne
Autor: Romoaldo de Souza
Fonte: Jornal do Brasil, 23/11/2004, Economia, p. A17

Encontro de Vladimir Putin com Lula não resolveu o entrave à entrada dos produtos brasileiros no país

O encontro de ontem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o colega russo Vladimir Putin não foi suficiente para resolver o problema do embargo do país à carne exportada pelo Brasil. A decisão tomada pela Rússia em setembro em conseqüência do surgimento de um foco de febre aftosa na Região Amazônica - que não é área exportadora - traz aos brasileiros prejuízos anuais estimados em US$ 500 milhões. De acordo com o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Maçao Tadano, o governo brasileiro esperava que a liberação das exportações de carne para a Rússia acontecesse ontem. Na semana passada, a Rússia liberou a entrada da carne apenas de Santa Catarina.

- Temos expectativas, mas não temos dados precisos em relação às cotas que estão sendo definidas para 2005. Porém, existem negociações nesse sentido - ponderou.

Já segundo o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, as conversas de Putin e Lula foram boas, embora não tenham enterrado o embargo russo.

- As equipes dos ministério da Agricultura do Brasil e da Rússia estão trabalhando. Nossa expectativa é que o embargo venha a ser resolvido no médio prazo - afirmou Furlan.

Para o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Marcio Fortes, o Brasil deve se manter otimista, já que durante a semana técnicos dos dois países voltam a se encontrar para analisar as medidas que estão sendo tomadas pelo Brasil para provar que o gado local não está atingido pela febre aftosa.

Outro negócio que também não se concretizou foi a compra de 12 aviões caça Sukoi para a Força Aérea Brasileira, um projeto de US$ 700 milhões. Especialistas internacionais esperavam que o presidente brasileiro anunciasse a compra dos aviões substituindo os velhos Mirages franceses, que já estão com 30 anos de uso.

Mas o encontro de Putin e Lula gerou também a assinatura de vários acordos.

Ficou definida, por exemplo, a ampliação do programa de cooperação em ciência e tecnologia, fechado em fevereiro deste ano. Foram incluídos no programa setores como energia, astronomia, saúde e biotecnologia, no acordo de troca de informações tecnológicas, que permanecerá em vigor até 2006. No documento assinado, os presidentes destacaram a experiência positiva acumulada nos acordos anteriores feitos bilateralmente.

''Os projetos incluídos no programa contribuirão para o cumprimento de objetivos sociais como o aumento do nível de emprego, renda, melhoria do sistema de saúde e qualidade de educação'', indica trecho do documento.

Entre os projetos incluídos, destacam-se a pesquisa em monitoramento de linhas de transmissão de energia, a criação de tecnologia de reciclagem para geração de eletricidade e o monitoramento dos índices de produtividade de animais marcados em experiências genéticas. Os governos brasileiro e russo também manifestaram interesse em trocar informações futuramente em áreas como nanotecnologia, microeletrônica e sistemas de processamento de petróleo e gás natural.

Também foram firmados acordos de cooperação entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e duas instituições russas: o Banco de Negócios Econômicos e o Banco de Comércio Exterior. A intenção é transferir tecnologia do Brasil para a Rússia e estudar formas de financiamento de exportações e produção.

Um dos pontos importantes desses acordos é a prevenção de evasão de divisas. A investigação será facilitada entre as duas nações, já que os dois governantes querem encontrar formas de se defender dos crimes que ocorrem por meio do sistema bancário.

Lula e Putin também trocaram elogios em torno da Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Conselho de Segurança da ONU. Enquanto o presidente russo disse que o Brasil, como maior país da América Latina, é um parceiro estratégico, razão pela qual apóia a ampliação do papel do Brasil na ONU, Lula retribuiu o lisonjeio, afirmando que o Brasil endossa a proposta para entrada dos russos na OMC.

Segundo Lula com os russos na OMC, torna-se viável ''um sistema internacional de comércio mais eqüitativo''.