Título: Guido Mantega assume BNDES
Autor: Mônica Magnavita e Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 23/11/2004, Economia, p. A19

No primeiro dia de trabalho, novo presidente do banco se reúne com Lessa e anuncia novos diretores

O economista Antônio Barros de Castro e o chefe da assessoria econômica do Ministério do Planejamento, Demian Fiocca, ocuparão duas das cinco vagas da nova diretoria do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Os nomes foram confirmados no primeiro dia de trabalho do ex-ministro do Planejamento Guido Mantega à frente do banco, logo após a reunião de quatro horas que manteve com seu antecessor, o economista Carlos Lessa, demitido na semana passada. Ex-presidente do BNDES entre outubro de 1992 e março de 1993, Barros de Castro é, assim como Lessa, professor titular do Instituto de Economia da UFRJ. Fiocca, que ainda não se desvinculou oficialmente do antigo cargo, acompanhou Mantega na reunião com Lessa, além de ter se reunido com a chefe de gabinete de Lessa, Cristina Riche. Hoje, ele estará no Congresso, em Brasília, como representante do Planejamento em debate sobre o projeto das Parcerias Público-Privadas (PPPs), uma das principais bandeiras da gestão de Mantega, no Planejamento.

Agora, o presidente do BNDES terá pela frente um novo debate: o de que os créditos direcionados são, em grande medida, responsáveis pelos spreads elevados cobrados pelos bancos no Brasil. A tese, defendida pelo ministro Antônio Palocci, na visão de Lessa atinge diretamente o BNDES, responsável por cerca de 20% do total de créditos direcionados no País. E teria como foco a ''destruição do Banco'', nas palavras do ex-presidente.

O nome do novo vice-presidente do BNDES permanece em aberto. Darc Costa, que ocupou o posto na gestão de Lessa, pediu demissão na sexta-feira, tendo sido acompanhado pelos diretores Luiz Eduardo Melin, da área de comércio exterior, e Márcio Henrique Monteiro de Castro, de inclusão social. Ontem à tarde, Mantega se reuniu em separado com eles, que continuam no banco até a nomeação dos substitutos. O presidente do banco ainda não anunciou se substituirá ou não os diretores Roberto Thimóteo da Costa, Maurício Borges Lemos e Fábio Erber.

Após a reunião com Mantega, Lessa ministrou a aula final da sétima turma do curso de ''Especialização em Desenvolvimento Econômico e Social'' em auditório com cerca de 300 servidores, sendo 40 alunos. O professor da UFRJ, que retomará suas atividades na universidade, voltou a elogiar a criatividade do brasileiro e criticou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

- Ele quis privatizar tudo o que era público: a educação, a saúde e a segurança. Os tucanos tentaram desviar o banco de sua função histórica, de desenvolvimento, dos sonhos dos brasileiros, para se tornar o banco da privatização. Mas isto está sendo recuperado. Vocês vão recuperar o banco.

Lessa agradeceu a Lula ''pelo aprendizado'' que lhe ''foi proporcionado''. No fim, o economista pediu aos funcionários que só aprovassem ''projetos de interesses nacionais'' e deixou o auditório ovacionado.

- Vocês, a elite burocrática de um dos poucos órgãos que resistiram à devastação fernandiana, têm que perceber, em suas análises, quais são os projetos que reforçam os interesses nacionais. E isso não tem a ver com o tamanho ou tipo de empresa.

Darc Costa resolveu não dar entrevistas, voltando atrás na decisão anunciada anteriormente. Funcionário do banco aposentado, ele comentou que não tem qualquer projeto e que deverá viajar de férias. No sábado, em seu último ato como vice-presidente do BNDES, recebeu na sede do banco, no Rio de Janeiro, uma delegação de mais de 20 autoridades e empresários da Rússia, liderada pelo ministro da Indústria e Produção, Boris Alioshin.