Título: Câmara absolve dois acusados do mensalão
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 09/03/2006, País, p. A2

O acordo deflagrado entre PFL, PSDB, PT e outros partidos da base governista para salvar a cabeça dos deputados julgados na noite de ontem, somado ao baixo quórum no plenário ¿ no momento da votação havia 449 deputados na Casa ¿ foram os principais temperos da pizza assada ontem na Câmara. Por 253 votos a favor e 183 contrários, o deputado Professor Luizinho (PT-SP) foi o primeiro petista absolvido do processo que pedia a cassação do mandato. Horas antes, Roberto Brant (PFL-MG) também havia escapado da degola. Já na votação de Brant, a euforia na platéia, que se converteu em aplausos até da oposição, sinalizava para o conchavo que também salvaria o petista. Confirmados os resultados, Brant seguiu para um restaurante de Brasília com amigos e parentes e Luizinho foi com amigo a festa na casa do deputado Devanir Ribeiro (PT-SP).

O resultado favorável ao ex-líder do governo Lula ficou explícito com a subida do deputado Mussa Demes (PFL-PI) à tribuna para defendê-lo. O discurso do pefelista foi encarado como um sinal de que a oposição cumpriria com o acordo que salvou a pele de Roberto Brant horas antes. O acordão estava garantido. O apoio de Mussa teria sido um apelo não só do petista Luizinho, mas também de integrantes do Executivo. Mussa é muito ligado ao ministro da Fazenda, Antônio Palocci. O ministro, segundo parlamentares, teria feito o pedido.

Dias antes da votação do processo que pedia a cassação de Luizinho, até os governistas acreditavam na condenação do petista. A tese era de que, com a absolvição de Brant, Luizinho seria sacrificado para satisfazer a opinião pública. No entanto, a avaliação que preponderou foi a de que uma única absolvição ou duas no mesmo dia trariam o mesmo desgaste para a Casa. Acusado de ser o beneficiário de R$ 20 mil do publicitário Marcos Valério Fernandes, Professor Luizinho fez discurso curto e emocionado.

¿ Por mais contundente que possa ter sido nosso embate, isso nunca se transformou em questão pessoal.

De formação jesuítica, Brant, que confessou ter recebido R$ 102 mil de Marcos Valério, recorreu a um pronunciamento recheado de metáforas e citações filosóficas. Em 36 minutos, passeou pelos versos de Antônio Vieira e do escritor francês André Malraux.

¿ Os homens não conhecem as palavras que podem expressar minhas dores mais profundas ¿ disse na tribuna, citando a frase de Malraux, que visitou Brasília em 1959.

Ao lembrar versos de Antônio Vieira ¿ ¿A amargura tocou minha alma com dedos finos, e dentro de mim, nasceu um deserto, e eu vou conviver com ele¿ ¿ Brant não só usou o tom poético para ilustrar sua defesa como também sinalizou no trecho a saída da política.

Antes da votação, o deputado mineiro anunciara que esse era o último mandato, independente do resultado. Não se mostrou arrependido de qualquer situação que o envolveu e garantiu que, mesmo ¿em outra vida¿, a política entraria naturalmente para o seu currículo.

¿ Meu papel eu cumpri com paixão e responsabilidade. Nunca envergonhei este Congresso nem aqui, nem lá fora nem no exterior.

Dos 19 citados na CPI dos Correios, o deputado foi o único da oposição a enfrentar a cassação. Só Roberto Jefferson (PTB-RJ) e José Dirceu (PT-SP) perderam os mandatos. Outro acusado, Romeu Queiroz (PTB-MG) foi o primeiro absolvido. Logo após a absolvição de Brant, a Câmara abriu sessão para analisar o caso de Luizinho (PT-SP).