Título: Conchavo e constrangimento
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 09/03/2006, País, p. A3

Parlamentares de vários partidos reafirmaram, em veio às votações, que um acordão havia sido concluído para livrar da cassação tanto o deputado Roberto Brant (PFL-MG) quanto o professor Luizinho (PT-SP). Ao fundo do plenário, os deputados Júlio Delgado (PSB-MG), Nelson Trad (PMDB-MT) e Cezar Schirmer (PMDB-RS) ¿ relatores de processos de cassação no Conselho de Ética ¿ estavam visivelmente frustrados. ¿ O que você quer mais? Esta foi a caracterização exata de que não há preocupação com o conceito desta Casa. Nenhum integrante do PFL ou PSDB nas CPIs tem moral mais para querer desgastar o governo Lula ¿ reclamou Trad, relator do processo de Brant.

Júlio Delgado ressaltava que o baixo quorum era sinal de apoio a Luizinho. Para cassar um deputado, são necessários, no mínimo, 257 votos.

¿ Essas piruetas que eles fazem agora poderão ser um tombo grande em outubro ¿ disse, apostando no julgamento eleitoral dos articuladores do acordo. Delgado registrou que a bancada do PT comemorou o resultado da absolvição de Brant.

¿ Aplaudiram muito. O vice-líder do PT, deputado Luiz Sérgio (RJ) foi o primeiro a correr para abraçar o deputado do PFL.

Para Chico Alencar (PSOL-RJ), que também integra o Conselho de Ética, o resultado de ontem demonstra que a Câmara ¿está caminhando para punir apenas os ex-amigos¿, referindo-se a o ex-presidente do PTB, Roberto Jefferson, e o ex-ministro José Dirceu. Os dois foram os únicos envolvidos no escândalo do mensalão cassados em plenário. Os deputados Sandro Mabel (PL-GO) e Romeu Queiroz (PTB-MG) também foram julgados, mas, assim como Brant e Luizinho, foram agraciados com o perdão dos colegas.

Antes da votação houve momentos de constrangimento. Ninguém se apresentou como voluntário para relatar o processo. O presidente do Conselho, Ricardo Izar (PTB-SP), convenceu Orlando Fantazzini (PSOL-SP) a fazer a leitura do relatório em plenário.

Luizinho se apresentou ao plenário negando responsabilidade sobre o esquema de caixa 2 do PT. O petista repetiu ontem que não sabia da operação e que os recursos abasteceram campanhas de vereadores do PT no ABC paulista, sua base eleitoral.

A Presidência da Câmara vai colocar em votação na próxima quarta-feira mais dois processos de cassação: contra os deputados Pedro Henry (PP-MT) e Pedro Corrêa (PP-PE).

Aldo Rebelo (PC do B-SP), disse que é possível encerrar duas votações num único dia, como fez ontem.

Também já tem seu processo pronto para ser levado em plenário o deputado Wanderval Santos (PL-SP), que deverá ter seu caso julgado no dia 22.