Título: Restrição das alianças complica PMDB e PFL
Autor: Daniel Pereira, Luiz Orlando Carneiro e Sérgio Par
Fonte: Jornal do Brasil, 09/03/2006, País, p. A4

O PMDB e o PFL cogitam não lançar candidatura própria à Presidência da República nem apoiar, de maneira formal, concorrentes de outros partidos ao Planalto caso o Supremo Tribunal Federal (STF) mantenha a verticalização nas eleições deste ano. A norma determina que alianças estaduais devem observar a lógica nacional. Com papel coadjuvante nas pesquisas de intenção de voto para a sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva, as duas legendas tendem a abrir mão da disputa para ter direito de fechar alianças nos estados. O desejo é eleger o maior número de governadores e parlamentares.

Os partidos decidirão qual a melhor estratégia: a candidatura própria, que encurtaria o leque de alianças, ou a desistência de participação no pleito principal. Defensores das duas estratégias não faltam. O líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), reconhece que, mantida a verticalização, ganhará corpo no partido o coro pela desistência da candidatura própria.

Hoje, pleiteiam a vaga o ex-governador do Rio Anthony Garotinho e o governador licenciado do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto. Se abandonar a disputa, o PMDB fecharia apoio informal à reeleição do presidente Lula e teria liberdade irrestrita nos estados. O partido acredita ter chances reais de eleger governadores em 14 unidades da federação através da política plural de alianças, além de outros meios.

Integrante da chamada ala governista, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirma que o partido elegerá mais governadores, senadores e deputados federais do que qualquer outra legenda. Com ou sem verticalização. Em público, Renan ¿ já cotado para vice na chapa para a reeleição de Lula ¿ diz que a candidatura própria será benéfica porque unificaria o partido.

A manutenção da verticalização também fez recrudescer o debate entre os pefelistas. Segundo o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), o partido pode lançar o prefeito do Rio, Cesar Maia, à Presidência, conforme anunciado há mais de ano. Mas há ¿50% de chance¿, de acordo com o líder, de abrir mão da disputa e centrar fogo nas eleições estaduais. Vice-presidente da República na gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o senador Marco Maciel (PE) é um dos que defendem o pé no freio nas negociações com os tucanos.

O PFL pretende indicar o principal candidato da oposição, o qual contaria com o apoio do PSDB em pelo menos sete estados. Líderes de partido reconhecem que, se a verticalização for mantida, as eleições presidenciais deverão ser decididas no primeiro turno, porque apenas PT, PSDB e alternativas inexpressivas, como Psol e Prona, apresentariam candidatos.

Ontem, o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), promulgou, ao lado do presidente da Câmara, Aldo Rebelo, a emenda constitucional que acaba com a verticalização. Menos de uma hora depois de encerrada a cerimônia, Renan admitiu com colegas de partido que o Supremo Tribunal Federal (STF) manterá a regra nas eleições deste ano. Amparou a análise em conversas telefônicas que teve com ministros do STF, os quais devem decidir a questão dentro de uma semana.

Diante da iminente decisão, Renan baixou o tom das críticas ao Judiciário. Disse que o Congresso fez o que estava ao alcance e ¿a bola está com o Supremo¿. Para demonstrar compromisso com a relação harmoniosa entre Legislativo e Judiciário, os presidentes das duas Casas disseram que, derrotados no Supremo, não patrocinarão uma emenda constitucional para retirar da Constituição o chamado princípio da anualidade, conforme aventado no início da semana.

¿ Não sou otimista em relação a essa tese ¿ atalhou Aldo.