Título: BC ignora apelos de Lula
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Fonte: Jornal do Brasil, 09/03/2006, Economia & Negócios, p. A17

O Banco Central ignorou as pressões do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e manteve a política de gradualismo no corte de juros. O conservadorismo prevaleceu mais uma vez na decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC. A taxa básica (Selic) foi reduzida ontem em 0,75 ponto percentual, para 16,5% ao ano. A decisão, porém, não foi unânime: dos nove integrantes do comitê, três votaram por um avanço maior no afrouxamento da política monetária, defendendo corte de 1 ponto.

É o sexto corte consecutivo na taxa, desde setembro, quando estava em 19,75%. A decisão foi em linha com as expectativas do mercado. Alguns, porém, já começavam a apostar em corte maior, já que a inflação vinha demonstrando sinais de desaceleração ¿ o IGP-DI registrou deflação de 0,06%, segundo a Fundação Getulio Vargas. Em um procedimento que começa a se tornar rotina, a decisão foi anunciada mais tarde do que o que costumava ocorrer até o ano passado, às 20h40 da noite ¿ reflexo do impasse na decisão da política monetária.

Segundo cálculos da consultoria GRC Visão, o corte em 0,75 ponto percentual reduz a taxa real de juros no país para 11,6% ao ano ¿ ainda a maior do planeta. O segundo lugar no ranking, ocupado por Cingapura, oferece taxa real de 7% ao ano. A taxa é quase oito vezes superior à média mundial, de 1,5%. Entre os países da América Latina, México vem em quinto, com 4,6%.

A redução da taxa Selic, porém, terá efeito tímido sobre as taxas praticadas na concessão de crédito. De acordo com a Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), os juros no crediário cairão de 104,6% ao ano para 103,5%. O cartão de crédito terá a taxa reduzida de 220,16% para 220,04% ao ano. Logo após o anúncio do Copom, o Bradesco anunciou a redução das taxas em suas modalidades de crédito, a partir de hoje.

No mercado financeiro, a decisão do BC foi interpretada como acerto.

¿ Apesar do câmbio apreciado e da inflação sob controle, é adequada a manutenção do ritmo de corte até porque 2006 deve ser marcado por uma expansão nos gastos do governo com impacto na economia ¿ disse Hugo Penteado, economista-chefe do ABN Amro Asset Management.

Já a economista-chefe do BES Investimentos, Sandra Utsumi, aponta tendência para a próxima reunião.

¿ A falta de unanimidade mostra que o Copom considerou o corte de um ponto, mas preferiu aguardar mais um pouco para ver a consolidação dos indicadores.