Título: Leilão pelo mercado brasileiro
Autor: Marcela Canavarro
Fonte: Jornal do Brasil, 09/03/2006, Economia & Negócios, p. A19

Os conselhos gestores dos modelos de TV digital que disputam o mercado brasileiro acenam com um assento para um representante brasileiro como forma de incentivar a escolha. Tanto o conselho do DVB (europeu) quanto o do ISDB (japonês) definem as condições de evolução do padrão. O assento daria poder de decisão, inclusive de veto - o que permite ao país influenciar nas decisões que não atendam às expectativas do mercado brasileiro.

Os executivos do DVB questionaram a validade do estímulo oferecido pelos japoneses, apontado como a razão da suposta opção do presidente Lula pelo ISDB. O Japão teria se comprometido a investir US$ 2 bilhões numa indústria de semicondutores em território brasileiro.

- O Brasil perdeu o trem da história em semicondutores e não volta mais. Não existe investir esse montante de recursos para atender a um único país - afirmou o presidente da Philips para a América Latina, Marcos Magalhães.

O executivo destacou também a limitação que o assento no conselho gestor do ISDB teria para o Brasil, por limitar as decisões unicamente ao mercado japonês, enquanto o europeu é adotado por 50 países. O conselho DVB é formado por 15 países e uma vaga adicional seria criada para o Brasil.

Caso adote o padrão japonês, o Brasil será o único no mundo a utilizar simultaneamente a tecnologia GSM para celular, predominante no país, e o ISDB para TV digital, o que pode dificultar a oferta de aparelhos móveis com recepção para o sinal de TV digital no mercado do país. O GSM não é adotado no Japão, único país que adotou o padrão ISDB. A baixa escala do mercado brasileiro em relação ao mercado global pode não ser atraente aos fabricantes de celulares.

- A Nokia não tem a intenção de fabricar celulares em ISDB só para o mercado brasileiro - afirmou o vice-presidente da divisão de celulares da empresa finlandesa no país, Cláudio Raupp.