Título: Escola vira ''ameaça'' a autoridade
Autor: Guilherme Queiroz
Fonte: Jornal do Brasil, 23/11/2004, Brasília, p. D1

Núcleo de estudos no Palácio do Jaburu já atendeu a 1.600 alunos. Agora, está sendo despejado por motivos de segurança

O projeto já chegou a atender 1.600 alunos da rede pública de ensino em um ano letivo. Mas, desde maio do ano passado, está de portas fechadas aos estudantes. Em nome da segurança do vice-presidente José de Alencar, o governo federal não renovou o convênio que permitia o funcionamento do Núcleo de Estudos Ambientais Jaburu nos jardins da residência oficial, o Palácio do Jaburu. Para não deixar de existir, o programa está à procura de um novo endereço. O projeto foi instalado no palácio em 1992, como uma das primeiras iniciativas de educação ambiental no sistema nacional de ensino público. Nas dependências do Jaburu, os estudantes faziam um passeio pela trilha ecológica de cerrado preservado, assistiam palestras sobre conservação ambiental e sobre as culturas nativas do bioma. Aprendiam também, em oficinas, a reciclar sucatas e papel. O lanche era patrocinado pela própria vice-presidência.

- É um projeto que é referência nacional. Está contextualizado com o currículo escolar da Secretaria de Educação - explica a secretária de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Vandercy de Camargos.

Em maio de 2003, entretanto, o convênio firmado com o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) terminou e o GDF ainda não conseguiu renovar a parceria. O Gabinete de Segurança Institucional do Palácio do Planalto decidiu adotar novas medidas de segurança e vedou o acesso dos estudantes ao Palácio do Jaburu. Nas oito casinhas pré-fabricadas erguidas para o projeto, apenas a administração continua a funcionar, mas já com ''ordem de despejo''.

Com o fechamento iminente do núcleo, a secretária Vandercy de Camargos começou a buscar apoio para evitar a extinção do projeto. Consultou a administradora regional do Lago Sul, Natanry Osório, sobre a possibilidade de transferir o programa para o bairro. Caso não consigam reativar o convênio, uma possibilidade seria abrigar a estrutura na na Companhia Florestal da Polícia Militar, na QI 3, até que uma definitiva fosse erguida no Parque Burle Marx, na Asa Norte.

Em 18 de novembro, Vandercy e Natanry foram ao Jaburu para buscar uma solução para o despejo. Juntas, querem agendar uma audiência com a atual primeira-dama, Mariza Gomes, para explicar que a manutenção do projeto no Jaburu não configura uma ameaça à segurança da Vice-presidência. Elas querem buscar incentivo como o que foi dado pela ex-primeira-dama, Ana Maria Maciel, que ficou conhecida como um das principais incentivadoras do núcleo. Na época, o projeto foi consolidado com a construção das oito casas pré-fabricadas que abrigam o programa.

- Só poderemos reativar o convênio se houver interesse do governo federal, e isso depende da vice-presidência - afirma a secretária.

Desde o vencimento do contrato, em maio de 2003, o programa passou a se chamar Jaburu Itinerante. Sem poder receber os alunos no núcleo, os professores começaram ir ás escolas para manter vivo o programa de educação ambiental. Mas, sem a estrutura do Palácio do Jaburu, a maioria das atividades tiveram de ser deixadas de lado. Da idéia inicial, sobraram apenas as oficinas de reciclagem de papel e de sucata.

- Nós temos um programa de reeditores ambientais. Os professores fazem as oficinas no núcleo e repassam o conteúdo para os alunos - explica a secretária.