Título: Tensão e bate-boca no conselho
Autor: Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 10/03/2006, País, p. A2

Com ressaca moral depois de sofrer mais duas derrotas no plenário da Câmara, o Conselho de Ética da Casa viveu ontem mais um dia de tensão e bate-boca. A absolvição de Roberto Brant (PFL-MG) e Professor Luizinho (PT-SP), anteontem, deixou resquícios de descontentamento e frustração com as votações dos processos de cassação de mandato. A sessão de ontem, marcada para discussão do parecer do deputado Edmar Moreira (PFL-MG), que relata o processo contra o petista José Mentor (SP), sinalizou o nível de tensão no conselho. Houve parlamentares que chegaram até a insinuar que renunciariam à condição de integrantes do Conselho de Ética. A ameaça foi cumprida por pelo menos um deles: o deputado Colbert Martins (PPS-BA). Antes mesmo das votações em plenário dos processos contra Brant e Luizinho, Colbert já havia comunicado a intenção de deixar o colegiado. A saída, no entanto, foi oficializada ontem.

- As ações do conselheiros decorreram da apuração das CPIs mistas e suprapartidárias. E no conselho houve apuração técnica de fatos, com muitos dados e espaço para ampla defesa. Está havendo uma forte dissociação entre conselho e plenário - disse Colbert.

Ele evitou pronunciar a palavra acordão. O parlamentar, que ocupava a vaga de suplente no conselho, criticou ainda o fato de o Senado até hoje não ter instaurado processos de cassação contra parlamentares da Casa Alta citados pelas CPIs que investigam o escândalo do mensalão. Como é o caso senador tucano Eduardo Azeredo (MG). Chico Alencar (PSOL-RJ) e Orlando Fantazzini (PSOL-SP) também demonstraram descontentamento com as recentes absolvições em plenário.

- Vamos nos reunir durante a próxima semana para conversar sobre as razões destes episódios. Com esse posicionamento do plenário em três casos semelhantes, o conselho perdeu seu objeto, já que todos os representados aqui receberam recursos do valerioduto - afirmou Fantazzini.

O bate-boca entre colegas chegou até mesmo ao Salão Verde da Câmara. Enquanto Júlio Delgado (PSB-MG) confidenciava a jornalistas que era nítida a existência de acordão para salvar os envolvidos no escândalo, o petista Fernando Ferro (PE) segurou em seu braço e disse:

- Larga de ser dedo-duro!

Delgado comentava que a maior prova do acordo estava no fato de Ferro ter ocupado a tribuna do plenário para defender Brant. E em contrapartida, o pefelista Mussa Demes (PI) ter feito o mesmo com o deputado Professor Luizinho.