Título: "O PT investiu no PFL"
Autor: Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 10/03/2006, País, p. A4

O presidente do Conselho de Ética da Câmara, deputado Ricardo Izar (PTB-SP), mostrou-se frustrado diante das sucessivas derrotas que o colegiado vem sofrendo no plenário da Casa. Das cinco recomendações de cassação de mandato por quebra de decoro parlamentar aprovadas pelo conselho, três já sofreram derrota no plenário. Ontem, Izar afirmou que os conselheiros defenderão, na próxima semana, a aprovação da proposta de emenda constitucional de autoria do deputado Mendes Thame (PSDB-SP) para que a votação em plenário de processos de cassação seja nominal, e não mais secreta.

Foi surpreendente para o Conselho ter dois relatórios derrubados num mesmo dia?

- Achei que depois da absolvição do Romeu Queiroz (PTB-MG), o plenário teria outra reação. De indignação, talvez. Estávamos confiantes de que os deputados ao voltarem de suas bases, depois do recesso, iriam reagir de uma maneira diferente. Mas isso não aconteceu.

Houve no plenário um acordão para salvar os deputados Roberto Brant (PFL-MG) e Professor Luizinho (PT-SP)?

- O PT investiu abertamente no PFL, acreditando numa reciprocidade, e essa veio. Foi aberto, às claras, um investimento político que deu certo.

A que o senhor atribui essa série de absolvições?

- Os deputados não votam com base no relatório. Estão votando pela amizade, pelo comportamento do deputado na defesa da tribuna e por sua vida pregressa. Ninguém votou no relatório em si. Nos casos de Brant e Luizinho, por exemplo, 80% dos parlamentares que estavam no plenário desconheciam o relatório e/ou não prestaram atenção nas colocações do relator.

O trabalho do conselho, então, não serviu para nada?

- Claro que serviu, inclusive alguns pareceres foram seguidos à risca. O problema é que, no plenário, as coisas funcionam diferente, porque a votação é secreta.

O conselho não está sendo desmoralizado?

- Desmoralizado, não diria. constrangido, sim. Eu mesmo estou frustrado, depois de tanto trabalho ter de ver as coisas caminhando assim. É duro, é cruel. Mas bola pra frente, vamos continuar tocando o barco. Nenhum órgão desta Casa trabalhou mais que a gente. Na semana que vem, vamos votar os relatórios de João Paulo Cunha (PT-SP) e José Mentor (PT-SP). Na semana seguinte, Josias Gomes (PT-BA) e depois Vadão Gomes (PP-SP). Ou seja, no fim de março todos (os processos) estarão encerrados.

A votação de dois pareceres num mesmo dia atrapalhou?

- Sim, foi um erro tático do próprio presidente Aldo Rebello (PCdoB-SP). Colocou os dois casos para serem votados ao mesmo tempo e acabou esticando a sessão até mais tarde. Se ele continuar fazendo isso, estará cometendo mais um erro. O certo seria colocar na pauta uma votação na terça e outra na quarta. Tenho certeza que haverá alguns casos em que as discussões vão tomar muito tempo. Vamos sair daqui às três horas da manhã? Será que o quorum vai ser bom? Todo mundo sabe que quorum baixo é ruim, porque não representa a vontade da maioria e pode absolver muita gente.