Título: Revolta no enterro de universitária
Autor: Gustavo Igreja
Fonte: Jornal do Brasil, 23/11/2004, Brasília, p. D5

Familiares e amigos repudiam hipótese de que estudante tenha morrido de overdose, como suspeita a polícia

A saudade da menina doce e cheia de vida, querida por todos na família e na faculdade, misturou-se com a indignação no enterro da universitária Denise Ferreira dos Santos, 23 anos, encontrada morta no domingo, dentro do seu carro, em um estacionamento da quadra 204 Norte. Revoltados com o retrato da jovem feito pela imprensa, de que a menina poderia ter morrido de overdose, familiares da garota e dezenas de amigos sepultaram ontem o corpo em silêncio, evitando comentar as suspeitas sobre o caso. O corpo, retido desde a manhã de domingo pelo Instituto Médico Legal (IML) para realização de necropsia, foi liberado logo no início da manhã. No laudo preliminar, as possíveis causas da morte apontadas pelos policiais foram mantidas, de que a jovem poderia ter morrido por conta do uso demasiado de entorpecentes ou ter sido assassinada. O resultado definitivo do exame, no entanto, deverá sair em 15 dias. Até lá, a família prefere nem pensar nas causas do falecimento de Denise para evitar mais dor.

- Não vamos falar porque não temos condições. Denise era uma pessoa maravilhosa dentro de casa, a família adorava ela. Com o irmão, parecia namorada. Todo jovem tem seus rompantes, mas acho que houve participação de outro no falecimento dela, pois seria absurdo tirar a roupa sozinha. Não acreditamos em overdose. Se há justiça, chegarão à conclusão verdadeira, mas ninguém pode levantar suspeitas agora. Tem de esperar o laudo - afirmou ontem Erika Rolim, 22 anos, prima da universitária.

No sábado, entre o final da tarde e as 22h, Denise havia participado de um churrasco onde bebera muito. Ao ir embora, teria sido acompanhada por uma amiga e por um rapaz que não conhecia até aquele momento. Ele se ofereceu para dirigir o carro da estudante, já que a amiga dela não o fizera. Na metade do caminho, no entanto, o carro da estudante, dirigido pelo rapaz, se perdeu do veículo da amiga de Denise, que não a veria mais.

- No depoimento, ele estava calmo e afirmou que parou o carro porque Denise passou mal. Depois, com o consentimento dela, foi comprar preservativos e dentro do carro, numa região próxima à festa, teria mantido relações sexuais com ela. Depois, voltou e a deixou no mesmo local da festa, para que fosse embora sozinha, já que ele tinha de pegar o carro dele. Só que temos certeza de que ela não teria a menor condições de, naquele estado, chegar até a 204 Norte. Essa é a contradição - explicou o delegado titular da 2ª DP (Asa Norte), Antônio Coelho Sampaio, que investiga o caso.

A polícia também desconfia da hipótese de que a estudante tenha morrido quando estava com o rapaz e que ele, assustado, fugiu. Para os amigos, a possibilidade de que a estudante se drogasse está descartada, especialmente por conta da sua rotina: trabalhava, estudava e ainda treinava futebol três vezes por semana.

- Seria impossível ela usar drogas ou viver uma vida desregrada. Nós treinávamos futebol todas as segundas, quartas e sextas-feiras pela manhã, por três horas ininterruptas. Se ela vivesse essa vida e se drogasse, não teria como agüentar, não teria preparo - garante Izabel Cristina Rodrigues, 23 anos, amiga de Denise e estudante de Psicologia.

Quando foi encontrada dentro do Uno Mille, Denise vestia apenas calcinha e uma blusa. A calça e as sandálias estavam no assoalho do carro, onde havia vômito. Deitada sobre o banco do passageiro, a estudante tinha hematomas no pescoço e apresentava sinais de asfixia.