Título: Deputados se mostram arrependidos
Autor: Mariana Santos e Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 13/03/2006, País, p. A2

As sucessivas absolvições no plenário da Câmara têm deixado uma ponta de arrependimento nos deputados que, com receio de enfrentarem o Conselho de Ética, renunciaram. Depois de cassarem Roberto Jefferson (PTB-RJ) e o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT-SP), o Parlamento vem mostrando que o caixa dois, ainda que seja crime eleitoral, não pode ser considerado quebra de decoro parlamentar. Os perdões concedidos em plenário indicam que a cabeça dos dois grandes nomes do escândalo foram suficientes para conter a fome de justiça da opinião pública. Pelo menos é o que acham os parlamentares. Fora dos holofotes, os cinco deputados que renunciaram para fugir da cassação trabalham firme para voltar ao Congresso. Mesmo sem diploma de parlamentar, nenhum se afastou completamente das atividades na Câmara. Fazem visitas rotineiras e articulam negociações de bancadas. Contam com passe livre em ministérios e no Palácio do Planalto.

Ex-líder do PMDB na Casa, José Borba (PR) faz parte do quinteto. Acusado de ter se beneficiado com R$ 2,1 milhões do valerioduto, atua como se ainda estivesse no cargo. Durante a liberação de emendas, no fim do ano passado, ele não arredou o pé da Câmara. Agora, com a possibilidade de a CPI dos Correios divulgar nomes de peemedebistas que também teriam se beneficiado do valerioduto, Borba afastou-se. Retomou a agenda política nas bases eleitorais e evita contato com a imprensa. O ex-parlamentar se dedida à campanha já desencadeada a deputado federal.

O ex-deputado e ex-bispo Carlos Rodrigues (PL-RJ) renunciou quando o processo ainda estava na Corregedoria da Câmara. Seguindo ordem do partido, ele evita comentar as absolvições.

Assim como Carlos Rodrigues, o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, também renunciou por ter sido citado como um dos beneficiários das contas de Marcos Valério. Ontem, por meio da assessoria, Valdemar disse que ¿não iria comentar nenhuma das decisões do Conselho, muito menos do plenário¿. Quer evitar, com isto, que o trabalho que vem desenvolvendo de olho na eleição para deputado federal seja prejudicado. O silêncio tem também outra explicação: o PL ainda conta com um integrante na fila da degola, o deputado paulista Wanderval Santos.

Enquanto a Câmara vem assando sucessivas pizzas ao absolver autores declarados de caixa dois, o petista Paulo Rocha (PA) jura que não está arrependido de ter renunciado. Em entrevista ao Jornal do Brasil, disse acreditar que há possibilidade de novas absolvições.

Antes de deflagradas as denúncias de mensalão, Rocha preparava-se para a candidatura ao governo de seu estado. Mas teve que desistir quando seu nome apareceu em meio à crise.

¿ A atual conjuntura (de absolvições) acaba deixando bem claro que houve, na verdade, uma manobra de uso pré-eleitoral. Depois de maio, junho, isso vai mudar ¿ conformou-se ao sugerir que poderá ser o candidato do PT no seu estado. ¿ Tudo vai depender das articulações do partido com as alianças e do desenrolar disso tudo.