Título: Ato do MST atrasa pesquisas
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Fonte: Jornal do Brasil, 13/03/2006, País, p. A5

Dias depois da invasão de um viveiro da Aracruz Celulose, no Rio Grande do Sul, pelo Movimento das Mulheres Camponesas (ligado à Via Campesina e ao MST), o sentimento entre os funcionários é de frustração. O gerente de tecnologia florestal, Gabriel Dehor, lamenta que o laboratório que desenvolvia sementes geneticamente modificadas foi completamente destruído e levará de seis meses a um ano para voltar a funcionar plenamente. A empresa ainda não contabilizou o prejuízo, mas é certo que gastou milhões de dólares na pesquisa do material genético e grande parte do trabalho foi perdido.

- A maior perda foi a do material genético. Não foi só um laboratório mas o trabalho de 15 anos para produzir um material de última geração com o cruzamento de plantas superiores.

Na madrugada do dia 8, em ''comemoração'' ao Dia da Mulher, o grupo de 1.200 manifestantes invadiu o Horto Florestal da Fazenda Barba Negra, em Barra do Ribeiro (RS), onde fica o viveiro e o laboratório da Aracruz.

A polícia investiga o fato de terem sido contratados 37 ônibus para levar as mulheres até o local. Dirigentes estrangeiros da Via Campesina já receberam intimação para falar sobre a invasão.

Foram destruídos, ainda, 1 milhão de mudas de eucalipto - que serviriam para o consumo próprio da empresa de celulose - e 100 quilos de sementes. Entre os danos provocados no prédio estão computadores, balanças, móveis e vidraças quebrados, além das estruturas de plástico dos viveiros danificadas.

O Ministério Público decidiu processar o principal dirigente nacional do MST, João Pedro Stedile, por declarações de apoio à invasão da unidade da Aracruz. Stedile participou, em Porto Alegre, do encontro da ONU sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural, onde estava também o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.

- As companheiras mulheres estão de parabéns, porque elas tiveram coragem de fazer um ato para chamar a atenção da sociedade.

A Aracruz divulgou nota repudiando ''atos de vandalismo, de intimidação e de invasão de propriedade privada, que considera uma afronta aos princípios democráticos e ao estado de direito''.

O governador, licenciado, Germano Rigotto suspendeu o financiamento de todas as empresas ligadas à Via Campesina no Rio Grande do Sul, devido ao ato de vandalismo. Até os partidos políticos do estado, entre eles o PT, divulgaram nota de repúdio à invasão.

O saldo do MST foi de 26 invasões desde o último dia 4, quando começou a Jornada de Luta, até ontem. Neste período, 150 pessoas foram presas e uma ficou gravemente ferida. As lideranças do movimento dizem que as ações serão retomadas com fôlego redobrado em abril. Em todo o país, do início do mês até ontem 55 invasões a fazendas e a prédios públicos tinham sido registradas.