Título: Jean Charles passa de vítima a réu
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 13/03/2006, Internacional, p. A13

Uma nova investigação a respeito de Jean Charles de Menezes se transformou em mais um motivo de revolta para família do brasileiro, morto por engano por policiais ingleses à procura de terroristas, em julho do ano passado. Segundo reportagem do jornal britânico The Independent, publicada ontem, a Scotland Yard agora apura um caso de estupro envolvendo o eletricista.

O caso ocorreu há mais de três anos, em West End, na região central de Londres. No início deste ano, a vítima ligou para o escritório da Scotland Yard para apontar o brasileiro como autor do crime. Segundo o jornal, a polícia metropolitana já entrou em contato com advogados da família de Jean Charles para pedir permissão para examinar amostras de DNA. O material foi coletado após sua morte, numa estação de metrô em Londres.

A acusação da vítima de estupro, feita mais de seis meses após a morte do eletricista, já gerou um inquérito aberto pela polícia. A nova investigação foi recebida ''com raiva'' por fontes ligadas à família, ainda de acordo com o The Independent. Elas acusam a polícia metropolitana de deixar vazar propositalmente os detalhes do inquérito, numa tentativa de desviar a atenção da apuração das circunstâncias da morte de Jean Charles, que causou revolta no Brasil e constrangimentos diplomáticos.

O eletricista de 27 anos foi baleado sete vezes na cabeça por dois agentes de uma unidade especializada da polícia de Londres, que o confundiram com um homem-bomba numa estação de metrô. Eles participavam da chamada Conhecida como Operação Kratos de combate ao terror e atuavam com permissão de atirar na cabeça de suspeitos de terrorismo.

A polícia metropolitana confirmou, ontem, em comunicado oficial, que as investigações do envolvimento do brasileiro no caso de estupro vão continuar.

Mais uma vez, o alvo da indignação dos parentes do eletricista é o chefe de polícia Ian Blair, que, segundo eles, enganou o público com afirmações feitas após a operação no metrô de Stockwell.

- Esta é uma tentativa calculada de desviar da responsabilidade. Primeiramente a polícia tentou dizer que ele era um terrorista e agora isso... ele não está mais aqui para poder se defender - afirmou uma fonte do jornal.

Recentemente, um programa da rede de TV pública BBC, exibido na quarta-feira passada, mostrou que a morte de Jean Charles poderia ter sido evitada se os rádios da polícia estivessem funcionado na estação de metrô Stockwell.

- Ainda nos seus últimos minutos de vida, a morte de Jean Charles poderia ter sido evitada. Quando os policiais o estavam seguindo pelas escadas que levavam ao metrô, eles poderiam ter finalmente se dado conta de que não estava escondendo uma bomba - afirmou a reportagem da BBC, demonstrando as falhas da polícia britânica.

Na mesma semana da exibição do documentário da emissora BBC, a morte do brasileiro voltou a ser tema de debate diplomático com a visita à Grã-Bretanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula marcou uma reunião com parentes do jovem eletricista e também conversou a respeito do caso com o o premier britânico, Tony Blair. Em entrevista coletiva, Blair garantido que as investigações do caso vão continuar. O primeiro-ministro pediu novamente desculpas à família.